ANÁLISE-'Superterça' não decidiu nada para democratas

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Por JEFF MASON
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O processo pode demorar um pouco mais. Foi isso o que os democratas ouviram após as prévias de terça-feira em vários Estados norte-americanos -- e que anteriormente se esperava para apontar o candidato do partido nas eleições presidenciais. O resultado foi um empate virtual entre os pré-candidatos Hillary Clinton e Barack Obama. Depois de se esgotarem para visitar cerca de 22 Estados em menos de duas semanas, Hillary e Obama --que travam uma histórica disputa entre uma mulher e um negro para a vaga democrata no pleito-- agora se deparam com uma série de novos confrontos em vários Estados, anunciando uma longa batalha pelo direito de concorrer à Presidência norte-americana. "Vamos ver um banho de sangue", disse John Geer, professor de ciências políticas da Universidade Vanderbilt em Nashville. Sangrenta ou não, a demorada batalha oferecerá aos dois a oportunidade de delinearem melhor suas propostas em busca da chance de enfrentarem o candidato do Partido Republicano nas eleições de novembro. Obama, um senador de Illinois segundo o qual a fama do marido de Hillary, o ex-presidente Bill Clinton, significa uma vantagem para sua adversária, usará esse tempo para entrar em contato com um número maior de eleitores e valer-se da tendência de crescimento na campanha dele nas últimas semanas. "Quanto mais tempo isso durar, mais conhecido ele se tornará", afirmou à Reuters David Gergen, ex-conselheiro de presidentes democratas e republicanos. "E quando mais for conhecido, melhor se sairá nas prévias." Hillary, segundo Gergen, deveria usar o tempo de que disporá para concentrar sua campanha em torno de um assunto capaz de mobilizar os norte-americanos. Os assessores da pré-candidata argumentaram que, como Obama, a senadora pelo Estado de Nova York tornava-se mais conhecida a cada dia e que os resultados da "superterça" apontavam para um crescimento da campanha dela também. "Antes da noite de hoje, houve muitas especulações sobre o 'momento Obama', especulações essas que não se concretizaram", afirmou Doug Hattaway, porta-voz de Hillary. "Ainda há muitas pessoas que estão começando a conhecer Hillary." Obama, 46, conquistou 13 Estados na "superterça" e Hillary, 60, oito, entre os quais os populosos Nova York e Califórnia. Mas, como a nomeação do candidato democrata depende dos delegados e o partido atribui a cada concorrente um número proporcional de delegados segundo os votos que obtiveram, a contagem final desses delegados deve terminar quase empatada. De outro lado, quando a disputa chegar a Estados como a Louisiana e Washington, Obama contará tanto com uma vantagem financeira --ele levantou 32 milhões de dólares apenas em janeiro-- como com o burburinho provocado pelas grandes multidões que costumam assistir a seus discursos. "Esta campanha para a Presidência dos Estados Unidos da América tem se mostrado diferente de todas as outras", afirmou o pré-candidato na terça-feira à noite. "Chegou a nossa vez." DE OLHO NO FUTURO Os que comparecem aos comícios de Hillary, apesar de não serem em número tão grande quanto no caso de Obama, parecem reagir bem à preferência da senadora por realizar debates. Hillary defendeu a realização de mais quatro debates com Obama, em uma tentativa de exibir sua desenvoltura em questões fundamentais, gerar cobertura gratuita nos meios de comunicação e destacar a suposta inexperiência administrativa do rival. "Espero ansiosamente para dar continuidade a nossa campanha e a nossos debates", afirmou a senadora, congratulando Obama pelas vitórias dele em alguns dos Estados. Porém, o chefe de campanha do pré-candidato, David Plouffe, negou-se a assumir um compromisso quanto à realização de novos debates, afirmando que a tática de Hillary ao defender esse tipo de evento constava "do segundo escalão das regras do jogo disputado tradicionalmente no Congresso". Segundo Plouffe, o senador ocupava um lugar confortável para enfrentar as prévias subsequentes. "Acho que estamos mais fortes hoje, quando nos preparamos para o restante de fevereiro e para o mês de março." A disputa pode prolongar-se para além disso. Alguns analistas prevêem que a corrida duraria até agosto, quando o partido realiza sua convenção nacional em Denver para escolher oficialmente o candidato à Presidência norte-americana. "Prevejo que essa disputa só será resolvida na convenção", disse Kenneth Janda, professor emérito de ciências políticas na Universidade Northwestern em Evanston, Illinois. Para Janda, alguns eleitores começaram a prestar atenção nas eleições apenas agora, um fator que poderia beneficiar Obama. "Um tempo maior pode ser necessário para que uma pessoa antes desconhecida penetre na psique do eleitorado norte-americano," afirmou. "Muitas pessoas só agora começam a olhar para o processo." De outro lado, Estados que realizam as prévias mais tarde podem ter um peso excepcionalmente alto na disputa, uma reviravolta irônica após alguns deles terem antecipado suas votações para o dia 5 de fevereiro a fim de aumentarem sua influência sobre a corrida. E alguns dos Estados que já realizaram suas prévias podem ser objeto de disputas legais caso Hillary e Obama cheguem ao final quase empatados. A Flórida e Michigan, que perderam o direito de enviar delegados para convenção nacional após antecipar suas prévias, podem ser alvos de processos jurídicos se a senadora, que venceu nos dois, tentar garantir a participação dos delegados deles na convenção. (Reportagem adicional de Ellen Wulfhorst em Nova York)

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