Analistas apostam que China reagirá à crise com intervenções

Governo 'pode comprar papéis e cortar impostos para garantir liquidez no mercado'.

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Por Marina Wentzel
Atualização:

A pressão nos mercados internacionais tem causado uma tendência de queda nas bolsas da China e, na opinião de especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o governo deve reagir com mais intervenções. "O governo da China usou de intervencionismo antes e agora que o modelo liberal dos Estados Unidos está necessitando de ajuda, não há razão para eles não intervirem ainda mais", afirmou à BBC Brasil Francis Lun, diretor geral da Fulbright Investments em Hong Kong. "O governo já tomou iniciativas pró-ativas e positivas cortando impostos e comprando papéis do mercado. O que podemos esperar agora são mais medidas de intervenção ativa e regulamentação", disse Mark Konyn, diretor executivo da Allianz Global Investors. Os especialistas acreditam não há risco de se observar quebradeiras por falta de liquidez como a dos bancos de investimento Lehman Brothers e Merrill Lynch, já que os maiores bancos da China têm forte participação do governo na composição de seu capital. Intervenção A Central Huijin Investment Co., braço de investimento do Banco Central da China, já é o principal acionista dos três maiores bancos do país: ICBC-Industrial and Commercial Bank of China, Bank of China e China Construction Bank Corporation. Há duas semanas, a Central Huijin Investment Co anunciou que compraria no mercado mais ações desses bancos para ajudar a estabilizar o preço e dar liquidez às instituições; A ação intervencionista visava reverter a tendência negativa do índice Xangai Composite, que apenas neste ano já perdeu mais de 70% em relação ao pico de 6124.04 pontos observado no ano passado. A julgar pelas declarações feitas pelo primeiro-ministro Wen Jiabao à imprensa no último fim de semana, a determinação do governo é mesmo de intervir mais. "Nós precisamos determinar o crescimento sustentável da nossa economia", afirmou. "Temos plena confiança em superar as várias dificuldades para garantir crescimento forte e contínuo da economia nacional", reforçou. Mercados Talvez por coincidência, as bolsas de Xangai e Shenzhen escaparam do tumulto nos mercados internacionais nesta semana. É feriadão nacional no país e o pregão só será reaberto na segunda-feira, dia 06. Até lá, são grandes as chances de o congresso americano já terá aprovado o pacote de auxílio aliviando a pressão sobre os mercados. Na sexta-feira 26, último dia em que operou, Xangai fechou com o índice SSE Composite em menos 0.16%. Hong Kong, entretanto, não teve feriadão. O mercado da ilha fechou somente na quarta-feira. Na segunda-feira, o índice Hang Seng marcou perdas superiores a 4%, embora tenha se recuperado na terça, fechando em 0.79% no positivo. Otimismo Investidores receberam com otimismo a notícia da aprovação pelo senado norte-americano do pacote de socorro financeiro a Wall Street nesta quinta-feira. No começo da tarde no horário local, o Hang Seng operava 1,01% no positivo. A aprovação acalmou a ansiedade imediata dos investidores da região, que ainda aguardam pela aprovação pendente do congresso. "O momento de incerteza ainda não acabou", afirmou Yiping Huang, economista chefe para Ásia do Citigroup. "Espero ver as bolsas e empresas da região, especialmente bancos, atingir níveis mínimos nos próximos dias antes de se recuperar", estimou Mark Konyn, diretor executivo da Allianz Global Investors. "A China sofrerá menos que os mercados europeus, mas Hong Kong e a região ainda enfrentarão períodos de incerteza", acredita Francis Lun da Fulbright Securities. Hong Kong Diferente dos bancos da China continental, as instituições financeiras de Hong Kong não têm grande participação de capital estatal, portanto estão sujeitas à crise de crédito. Nesta quinta-feira, por exemplo, as ações do Hang Seng Bank, um subsidiário do HSBC, caíram mais de 9%, porque o banco possuía ativos do agora falido banco americano Washington Mutual, WaMu. Igualmente, o Dah Sing Bank, um pequeno banco local, também admitiu estar exposto aos ativos do WaMu e suas ações já caíram mais de 8.5% nesta semana. Pensando nessas instituições, a Autoridade Monetária de Hong Kong anunciou na terça um pacote emergencial de facilitação de crédito, que permanecerá em vigor até março do ano que vem. O pacote de medidas foi anunciado uma semana após Hong Kong testemunhar uma corrida ao Banco do Leste da Ásia (Bank of East Ásia, BEA) que balançou a estabilidade da instituição. Rumores espalhados via mensagens de texto fizeram milhares de clientes do BEA correr às agências para recolher suas economias. O desespero dos clientes só teve fim no momento em que o governo emitiu circular oficial afirmando que a saúde financeira do BEA estava garantida. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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