Anvisa encerra debates e deve decidir pela proibição de emagrecedores

Em documento que servirá de base para a votação do tema na agência, equipe técnica mantém recomendação de cancelar o registro de inibidores de apetite; segundo o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, relatório será votado até o início de agosto

PUBLICIDADE

Por Fernanda Bassette , Ligia Formenti e BRASÍLIA
Atualização:

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) encerrou ontem os debates em torno da discussão sobre proibir ou não os remédios para emagrecer no País. Apesar de ainda não haver um posicionamento definitivo, tudo indica que a agência vai mesmo retirar os remédios do mercado.

 

 

Torp-Pedersen reconhece que a sibutramina aumenta em 16% os riscos de problemas cardíacos em pacientes com fatores de risco, mas sustenta que a droga pode trazer benefícios, principalmente para os pacientes obesos sem risco associado. "O problema é que o remédio é usado justamente por pessoas que têm risco mais elevado. Pessoas obesas e com sobrepeso têm maior probabilidade de apresentar distúrbios cardíacos", ponderou Maria Eugênia.Segundo Barbano, o Brasil é o maior consumidor de sibutramina no mundo. "Em 2010, foram consumidas 5,6 toneladas do medicamento no mundo. Desse total, 55% foi vendido no País", diz.Ainda segundo Barbano, outro fato demonstra que há uma indicação excessiva de remédios para emagrecer no Brasil: "Em 2009, os Estados Unidos consumiram 5 quilos e o Brasil, 170 quilos. Há algo errado", completou.Mais pesquisas. Os partidários à manutenção dos remédios no mercado defendem a realização de uma pesquisa em grande escala no País, financiada pelo Ministério da Saúde, para comprovar a eficácia e a segurança de três das quatro drogas: anfepramona, femproporex e mazindol."O governo tem recursos para isso. Os obesos precisam de respostas, de indicações terapêuticas", defendeu Walmir Coutinho, presidente da Associação Internacional de Estudo de Obesidade. Para o pesquisador Francisco Paumgarttem, da Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme), a discussão no País sobre o uso de remédios sofreu uma inversão: "Ninguém está demonstrando evidências de segurança ou eficácia, mas argumentando que, como há poucos estudos, devemos presumir que o produto não faz mal até que novos trabalhos sejam realizados."Desiré Carlos Callegari, conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM), defendeu a manutenção desses remédios com mais rigor na prescrição: "Defendemos o direito de o paciente poder decidir e de os médicos terem autonomia para discutir o que é melhor para o paciente."Ricardo Meirelles, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), admitiu seu pessimismo em relação à mudança no quadro. "Acho que a Anvisa está inflexível e já possui uma opinião formada. Fica difícil argumentar. Caso ocorra a proibição, não descartamos uma medida judicial", diz.Opção terapêuticaPEDRO MENEGASSODIRETOR DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA, REGIONAL SP"O debate está ficando repetitivo. As posições são conhecidas. Parece que há uma perseguição aos emagrecedores e posições extremamente radicais e políticas. Para nós, a decisão sobre o uso ou não do remédio deveria ser do médico."DESIRÉ CALLEGARICONSELHEIRO DO CFM"O CFM quer ser parceiro da Anvisa para educar o médico e a população. Mas se os remédios saírem do mercado e não restarem opções terapêuticas, vamos à Justiça. O paciente obeso não pode ficar totalmente desassistido."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.