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Aos 8 anos, 70,8% dos estudantes não sabem matemática

Por Paulo Saldaña
Atualização:

Mais da metade das crianças do 3.º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do País não aprendeu os conteúdos esperados. A situação é ainda pior se forem consideradas apenas as escolas públicas. Em matemática, 70,8% dos alunos não sabem o adequado. Em leitura, esse porcentual foi de 60,3% e em escrita, de 74,1%.Nas duas redes, uma em cada três crianças não sabe, aos 8 anos, o mínimo esperado em matemática. Assim, apenas 66,7% delas resolvem problemas com notas e moedas e sabem fazer contas de adição e subtração. Além disso, 69,9% têm desempenho abaixo do esperado na escrita e 55,5% leem mal - não conseguem, por exemplo, identificar temas de uma narrativa e perceber relações de causa num texto. Os dados são da Prova ABC, realizada pela organização não governamental (ONG) Todos pela Educação em parceria com a Fundação Cesgranrio e os Institutos Paulo Montenegro e Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). De acordo com os coordenadores da avaliação, os resultados mostram que as crianças escrevem pior do que leem e indicam certo abandono do ensino de matemática. Segundo a diretora executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, a Prova ABC adota como modelo de adequação a autonomia do aluno."Nosso entendimento de alfabetização vai além de aprender a ler. Precisamos que as crianças tenham condições necessárias de ler para conseguir aprender", diz. Priscila lembra que os resultados expõem o "berço da desigualdade educacional". "É fato de indignação ter só metade das crianças com as competências esperadas." DesafioA ONG estipulou como meta que, até 2022, toda criança esteja plenamente alfabetizada até os 8 anos. Uma realidade distante para muitos que estudam em escola pública. A auxiliar de odontologia Luana Osti Ignacio, de 29 anos, afirma que o filho só começou a ler bem com 10 anos. "Ele não escreve bem até hoje, não sei como passa de ano. Já pensei em colocar em escola particular, mas a gente não ganha bem", diz. O filho Guilherme, hoje no 6.º ano, estudava numa escola municipal e em 2012 foi transferido para uma unidade estadual na zona leste.Apesar de as crianças não terem bons resultados em leitura e escrita, matemática é o desafio maior. Conforme a especialista em ensino de matemática Katia Smole, do grupo Mathema, os resultados mostram que os alunos conseguem responder a questões elementares, mas têm dificuldades em conteúdos mais complexos. "É como se fosse um analfabeto funcional em matemática." Katia aponta algumas hipóteses para o déficit. "Pode haver falta de clareza curricular. Ou, por temer que as crianças fracassem, o professor acaba ensinando o conteúdo elementar."Última ediçãoA prova foi aplicada em 1,2 mil escolas em 600 municípios. Os resultados não são comparáveis com a edição anterior. Esta foi a última edição, uma vez que o governo anunciou instrumento próprio de avaliação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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