Apesar de atritos, países sul-americanos criam bloco regional

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Por JULIO VILLAVERDE
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A América do Sul criou na sexta-feira um ambicioso organismo internacional para levar adiante sua união política e econômica, apesar dos intensos conflitos diplomáticos travados entre países vizinhos, que colocam em dúvida os esforços de integração. Em uma cúpula em Brasília, chefes de Estado e de governo dos 12 países sul-americanos assinaram o Tratado Constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que se somará à ampla lista de entidades que buscam integrar a dividida região, entre as quais o bloco aduaneiro Mercosul e a Comunidade Andina de Nações (CAN). O nascimento da nova instituição acontece em um momento de repetidos atritos diplomáticos entre a Colômbia e seus vizinhos Venezuela e Equador. O governo colombiano acusa os dirigentes venezuelano e equatoriano de darem apoio à guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). "A América do Sul é hoje uma região de paz, onde floresce a democracia", afirmou, ao abrir o encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, destacando o fato de todos os governantes dos países sul-americanos terem sido democraticamente eleitos. "A instabilidade que alguns pretendem ver no nosso continente é um sinal de vida, em especial de vida política", acrescentou Lula. Antes da cúpula, Lula tomou café da manhã com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, do Equador, Rafael Correa, e da Bolívia, Evo Morales. "Somos todos governos de esquerda. Todos nos parecemos muito", disse Chávez após o encontro, sem fazer comentários sobre o conteúdo das conversas mantidas ali. Lula tem se esforçado para apaziguar os conflitos que sacodem a região e que a tem dividido entre os países próximos aos EUA, como a Colômbia e o Peru, e os que são críticos aos EUA, como a Venezuela, o Equador e a Bolívia. O incidente mais recente ocorreu no fim de semana passado, quando Chávez acusou a Colômbia de enviar soldados para dentro do território venezuelano, algo negado inicialmente pelo governo colombiano, o qual, no entanto, prometeu investigar o caso. Em março, um ataque de forças da Colômbia contra um acampamento das Farc localizado dentro do Equador deixou o ambiente ainda mais tenso e ofereceu a Chávez uma chance de elevar o tom das acusações contra o governo colombiano, maior aliado dos EUA na região. 'RELAÇÕES LAMENTÁVEIS' Lula disse que os governantes sul-americanos "estão cientes de que o embates atuais -- incluindo aqueles revestidos de dramaticidade -- são passageiros. Eles não devem se sobrepor ao projeto de integração." De toda forma, pouco depois, Correa afirmou a jornalistas que são "deploráveis" as relações do Equador com o governo da Colômbia. A Unasul contará, como órgãos deliberativos, com um Conselho de Chefes de Estado e de Governo, com um Conselho de Ministros das Relações Exteriores e com um Conselho de Delegados. A entidade terá ainda uma Secretaria Geral, com sede em Quito, e há planos para a criação de um Parlamento sul-americano, que funcionaria na cidade boliviana de Cochabamba. No entanto, em mais um episódio que se somou aos percalços já enfrentados pelo bloco nascente, a Colômbia recusou-se a assumir a Presidência da Unasul em caráter interino, alegando que precisa neste momento concentrar-se em seus problemas internos. O cargo será ocupado pelo Chile. Além disso, o ex-presidente equatoriano Rodrigo Borja desistiu de tomar posse como secretário-geral da entidade porque considerou o bloco, em sua feitura definitiva, pouco eficaz, já que careceria de poderes executivos e se pareceria mais com um fórum de discussões. (Reportagem adicional de Isabel Versiani e Raymond Collit)

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