
21 de dezembro de 2012 | 02h16
Quase quebrei o computador de tanto procurar no YouTube - em vão. A música eu tenho, obrigado. O que eu queria era reviver a sensação de quando assisti à apresentação ao vivo naquela noite de maio de 1980.
O candidato era totalmente desconhecido. (Mais tarde eu ligaria o nome aos créditos de 'Vesúvio', uma música do segundo disco das Frenéticas, de 1978, de um tal 'Duardo' Dusek). De repente, a tela 36 polegadas da Telefunken foi tomada por aquele cantor alto demais, com cabelo comprido demais, vestindo um fraque esquisito demais, a bordo de um piano de cauda.
Enquanto os violinos da orquestra sugeriam um passeio por campos floridos, Dusek narrava o apocalipse. "Alguns edifícios explodiam, pessoas corriam, eu disse bom dia...gnorei!"
'Nostradamus' não era apenas uma canção sobre o fim do mundo. Era um manual de instruções sobre como se portar com dignidade quando a ocasião se oferecesse.
"De repente, na minha frente, a esquadria de alumínio caiu. Junto com o vidro fumê, o que fazer? Tudo ruiu!" Parecia a descrição do fim da Barra da Tijuca, e talvez por isso a orquestra continuasse serena, inabalável.
"Começou tudo a carcomer. Gritei, ninguém ouviu, e olha que eu ainda fiz psiu." Com efeito: quando você faz psiu e ninguém acode, é sinal da iminência do fim dos tempos.
A primeira vítima só apareceria mais para o fim da música: "Vou até a cozinha, e encontro Carlota, a cozinheira, morrrta!" Mas nem deu tempo de sentir pena, porque logo Dusek arremataria com o melhor desfecho da história do cancioneiro popular: "Levanta! Me serve um café! Que o mundo acabou!"
A orquestra ainda estava nas firulas de praxe de um gran finale, quando o editor cortou para uma gordinha na plateia que arregalou os olhos, escancarou a boca e puxou histericamente os aplausos - representando todos os telespectadores que nunca imaginaram que o fim do mundo pudesse ser tão divertido.
* Ricardo é turista profissional. Blog: viajenaviagem.com Twitter: @riqfreire
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