Após banir aditivo, Brasil pode exportar mais carne à Rússia

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Por POLINA DEVITT
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O Brasil pode acabar por aumentar suas exportações de carne bovina para a Rússia, seu maior comprador, após banir um controverso aditivo que promove o crescimento muscular em animais como suínos e bovinos, disse o órgão russo de controle da segurança alimentar nesta quinta-feira. A Rússia intensificou os testes sobre as carnes importadas dos EUA e Canadá para identificar os traços do aditivo, um beta-bloqueador chamado ractopamina, na segunda-feira, e exigiu que as duas nações certifiquem suas carnes como livres da substância. Somente as exportações dos EUA para a Rússia valem cerca de 500 milhões de dólares. A ractopamina está em uma classe de medicamentos conhecidos como inibidores ou bloqueadores que neutralizam os efeitos da adrenalina no sistema nervoso e diminuírem a frequência cardíaca. Na pecuária, promove ganho muscular. O Brasil baniu o uso da ractopamina em 12 de novembro e eventualmente planeja ter um sistema segregado que possibilite a produção de carnes sem ractopamina para alguns compradores tais como a Rússia, e a utilização da substância na produção para exportação para outros destinos. O órgão de segurança alimentar da Rússia, Rosselkhoznadzor, disse estar satisfeito com as garantias brasileiras, e afirmou que o Brasil pode, como resultado, aumentar sua atual participação nas importações russas de carne bovina, agora em torno de 43 por cento. Um aumento provavelmente causaria diminuições nas compras de carnes norte-americanas e canadenses enquanto a questão do teste de certificação não é resolvida. "Está tudo certo com a carne brasileira. Eles garantiram que a carne que vem para a Rússia será livre de ractopamina", disse Alexei Alekseenko, porta-voz do Rosselkhoznadzor, à Reuters. "Esta é uma medida bastante interessante pois eles poderão manter sua participação no mercado russo, e até aumentá-la", disse Alekseenko. A Rússia importou 1,25 milhão de toneladas de carne vermelha, no valor de 4,47 bilhões dólares, de países não pertencentes à Comunidade de Estados Independentes (CEI) em 2011, com exclusão das miúdos, segundo dados aduaneiros oficiais. A Rússia negou que haja motivação política por trás de suas restrições mais severas às carnes norte-americanas, dizendo que sua decisão foi puramente baseada em seus padrões de segurança alimentar. Na última sexta-feira, mesmo dia em que o Senado dos EUA votou uma medida para "identificar e envergonhar" violadores dos direitos humanos como parte de uma lei de expansão do comércio com a Rússia, o país europeu exigiu que as carnes importadas dos EUA e Canadá sejam certificadas como livres de ractopamina. Ironicamente, em um momento no qual a Rússia considera a possibilidade de importar mais carnes brasileiras, Moscou ainda está ponderando impor restrições ao produto do Brasil após um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), comumente chamado de mal da vaca louca, em um animal que morreu por outras causas no sul do Brasil em 2010. O caso é tido "atípico", derivado de uma mutação genética mais comum em animais idosos que pode ter causado espontaneamente o agente da doença, diferentemente dos casos britânicos nos anos 80 e 90, causados por ração contaminada. O animal foi enterrado na fazenda em que morreu, e nunca entrou na cadeia alimentar. Alekseenko disse que a Rússia deve encerrar suas investigações sobre o caso brasileiro em breve. "Eu acho que os resultados devem ficar prontos em breve e então poderemos decidir o que fazer." O Japão afirmou que suspendeu suas importações de carne bovina brasileira nesta segunda-feira e requisitou às autoridades do Brasil mais informações sobre o animal. Nesta quinta-feira, a África do Sul anunciou que havia suspendido as importações, assim como a China. (Reportagem adicional de Anthony Boadle em Brasília)

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