Após ciclone, Mianmar fala em 13 mil mortos e desaparecidos

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Por AUNG HLA TUN
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A junta militar que governa Mianmar acredita que ao menos 10 mil pessoas tenham morrido na passagem de um ciclone que devastou a região do delta de Irrawaddy, provocando uma imensa resposta de ajuda da comunidade internacional. "A mensagem básica foi de que, segundo os cálculos deles, a cifra de mortos era de 10 mil, com 3.000 desaparecidos", afirmou à Reuters, em Bangcoc, um diplomata que trabalha em Yangun, resumindo um comunicado do ministro das Relações Exteriores de Mianmar, Nyan Win. "Essa é uma cifra muito preocupante." A dimensão do desastre provocado pelo violento ciclone de sábado fez com que os generais do país asiático, isolados diplomaticamente, aceitassem a ajuda enviada pela comunidade internacional, algo que não fizeram quando do tsunami de 2004, no oceano Índico. A fechada ditadura militar de Mianmar, no poder há 46 anos, isolou-se ainda mais nos últimos seis meses devido à indignação generalizada decorrente da violenta repressão lançada contra manifestações lideradas por monges budistas, em setembro. As cifras oficiais falam em 3.394 mortos e 2.879 desaparecidos, mas esses dados parecem referir-se a apenas duas das cinco zonas de desastre do país, onde, segundo autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU), há centenas de milhares de pessoas sem abrigo e sem água potável. O número de vítimas vem aumentando à medida que representantes do governo de Mianmar chegam a ilhas e vilarejos duramente atingidos no delta de Irrawaddy, o antigo "celeiro do arroz da Ásia" e a região mais devastada pelo ciclone Nargis, cujos ventos chegaram a 190 quilômetros por hora. Após receber uma "tímida luz verde" do governo de Mianmar, a ONU disse estar fazendo todo o possível para enviar comida, água potável, cobertores e lonas de plástico. "A ONU começou a preparar o envio da ajuda agora e começou a transportar esse material para Mianmar o mais rápido possível", afirmou Paul Risley, do Programa Mundial de Alimentação (WFP). AJUDA EXTERNA Os EUA, que impuseram sanções contra a junta militar, disseram estar enviando fundos por meio do WFP e de outros grupos. "Isso não chega necessariamente às mãos do governo", disse Scott Stanzel, porta-voz da Casa Branca. "Mas estamos avaliando o que mais podemos fazer." Dois navios da Índia carregados com alimentos, barracas, cobertores, roupas e remédios partiriam logo rumo a Yangun, disse o Ministério das Relações Exteriores daquele país. A Tailândia respondeu ao desastre enviando um avião de transporte C-130 carregado com comida e medicamentos para aquela cidade depois de o aeroporto dali ter sido reaberto, na segunda-feira, disse o chanceler tailandês, Noppadon Pattama. Os líderes da junta militar, abrigados na nova e remota capital do país, Naypyidaw (localizada 400 quilômetros ao norte de Yangun), disseram que ainda pretendiam realizar um referendo, no dia 10 de maio, sobre uma nova Constituição que, segundo analistas, apenas fortaleceria a ditadura. Na ex-capital Yangun, os preços dos alimentos e do combustível dispararam enquanto as entidades de ajuda internacional tentavam distribuir material doado e avaliar os danos nas cinco zonas de desastre, lar de 24 milhões de pessoas. Na cidade, era difícil obter água potável. A maior parte das lojas não dispõe mais de velas e baterias para vender. E não há informações sobre quando a energia elétrica voltaria. "Quantas pessoas foram atingidas? Sabemos que se trata de uma cifra de seis dígitos", afirmou à Reuters Richard Horsey, do escritório de resposta a desastres da ONU. "Sabemos que há centenas de milhares precisando de abrigos e água potável. Mas não sabemos ainda exatamente quantos." (Reportagem adicional de Ed Cropley)

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