Após morte de 2 xiitas, oposição boicota Parlamento no Barein

PUBLICIDADE

Por FREDERIK RICHTER
Atualização:

A polícia do Barein entrou em confronto com os participantes do funeral de um manifestante xiita assassinado durante protestos na véspera. Uma pessoa morreu na confusão, disseram testemunhas e policiais nesta terça-feira. Horas depois, o bloco parlamentar xiita de oposição Wefaq anunciou que estava suspendendo sua participação no Parlamento, após os dois xiitas terem sido mortos. "Este é o primeiro passo. Queremos ver diálogo", disse Ibrahim Mattar, deputado do Wefaq. "Nos próximos dias, vamos renunciar ou continuar", acrescentou Mattar. Testemunhas disseram que o confronto desta terça-feira ocorreu quando cerca de 2 mil pessoas levavam o corpo de Ali Mushaima pelas ruelas de aldeias xiitas no entorno de Manama, a capital do Barein. O cortejo havia saído do hospital onde Mushaima morreu e se dirigia à casa dele, onde o corpo seria lavado antes do enterro. Depois do incidente, o funeral se transformou em protesto contra o governo, com gritos inspirados nas recentes manifestações que derrubaram os governos do Egito e Tunísia. "Exigimos a queda do regime", dizia a multidão. O Barein, pequeno país insular no golfo Pérsico, tem população de maioria xiita, mas é governador por uma monarquia sunita. Analistas dizem que os protestos no país, originalmente organizados pela internet, podem estimular uma rebelião da marginalizada minoria xiita na Arábia Saudita. Mushaima, o jovem de 22 anos que estava sendo sepultado, foi morto na véspera pelas forças de segurança durante protestos na aldeia de Daih. O deputado Mattar disse à Reuters que a polícia tentou dispersar a procissão fúnebre usando gás lacrimogêneo, mas que os participantes se reagruparam e retomaram o cortejo. A polícia diz que os participantes do funeral atacaram quatro veículos oficiais no local. Fadhel Salman Matrook foi ferido no incidente e mais tarde morreu no hospital. O Ministério do Interior ofereceu condolências à família do manifestante morto na segunda-feira e prometeu medidas judiciais se o inquérito apontar que o uso da força foi injustificado. O governo do Barein, aparentemente tentando se antecipar à fúria xiita, havia oferecido benefícios financeiros à população antes da manifestação denominada "Dia de Fúria", convocada para a segunda-feira, e que ocorreu principalmente nas aldeias xiitas em torno de Manama. O governo prometeu mil dinares (2.650 dólares) para cada família local, além de investimentos adicionais de 417 milhões de dólares em investimentos sociais, como subsídios alimentares, num sinal de que as autoridades desistirão de fazer cortes nos gastos públicos, como se previa. Ao contrário de outros países da região, o Barein não pertence à Opep (grupo de exportadores de petróleo) e não tem muito dinheiro sobrando para resolver problemas sociais. (Reportagem de Frederik Richter)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.