Após polícia apontar irregularidades em boate, autoridades trocam informações contraditórias

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Por ANA FLOR
Atualização:

A série de irregularidades reveladas nas investigações feitas até agora sobre a tragédia que deixou 235 mortos numa boate em Santa Maria fez com que viessem à tona informações contraditórias por parte das autoridades que deviam chancelar o funcionamento da casa noturna, levando o Ministério Público do Estado a abrir inquérito para apurar responsabilidades. A investigação é o primeiro passo para apurar a responsabilidade de órgãos públicos, que poderiam ter falhado na fiscalização da boate, segundo o promotor de Justiça César Carlan. A intenção do MP é apurar a responsabilidade cível, independentemente da criminal. "A instauração do inquérito civil nos permite requisitar documentos e produzir provas para apurar esse tipo de responsabilidade", disse Carlan. A Polícia Civil do Estado centra as investigações na confirmação de que os músicos da banda que tocava na madrugada de domingo, quando o incêndio na boate Kiss se iniciou, soltaram um sinalizador de uso externo dentro do local, e as irregularidades como extintores vencidos, obstáculos na única porta de saída e superlotação. Dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira e dois proprietários da boate tiveram prisão temporária decretada e são mantidos sob custódia da polícia para questionamentos sobre o episódio que matou em sua maioria jovens universitários, asfixiados pela fumaça do incêndio iniciado na madrugada de domingo, segundo a polícia. Um dos donos da boate, o empresário Elissandro Spohr, que foi hospitalizado após o incêndio, chegou a tentar se matar na terça-feira, segundo a Polícia Civil. Ele está com a prisão temporária decretada até sexta-feira. Na tarde de terça, cerca de 200 pessoas fizeram um protesto na cidade, passando em frente da delegacia regional da Polícia Civil, pedindo responsabilização do poder público. Nas faixas, amigos e parentes da vítimas --que com um microfone faziam relatos e diziam que a tragédia não foi uma "casualidade"-- chegaram a chamar o prefeito e o governador de omissos. O prefeito Cezar Schirmer (PMDB) chamou a imprensa e leu uma nota cancelando eventos festivos na cidade por 30 dias, além de proibir pelo mesmo prazo o funcionamento de casas noturnas. Ele também afirmou estar "tranquilo" de que a prefeitura "cumpriu seu dever". Ele não quis responder perguntas e deixou o local. Quem conversou com jornalistas foi o secretário de Relações de Governo e Comunicação, Giovani Manica, que afirmou que a competência de fiscalizar a boate seria exclusividade do Corpo de Bombeiros. Horas depois, o Comando Geral da Brigada Militar, responsável pelo Corpo de Bombeiros, subordinado ao governo do Estado, administrado pelo PT, divulgou nota afirmando que a renovação do alvará de proteção contra incêndios estava em andamento, e disse que cabia à Prefeitura de Santa Maria o alvará de funcionamento do local.

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