
12 de fevereiro de 2013 | 02h01
O homem confessou ter cometido o crime nos aposentos pontifícios. Foi preso e julgado pela Justiça do Vaticano, que lhe impôs em 8 de outubro de 2012 uma condenação a 18 meses de prisão. Na véspera do Natal, Bento XVI caminhou até o cárcere onde o antigo funcionário expiava sua pena. Sentou-se ao lado de Gabriele e concedeu-lhe o perdão. Horas depois, a Secretaria de Estado do Vaticano divulgava o comunicado. Dizia que o encontro durara 15 minutos e fora "intenso e pessoal". O papa oferecia ao ex-mordomo, de 46 anos, casado e pai de três filhos, a possibilidade de ele retomar a vida com serenidade ao lado de sua família.
O escândalo começara meses antes, quando documentos de auxiliares importantes do papa começaram a aparecer nos jornais italianos. O responsável pelo vazamento era identificado como corvo e lançava suspeitas sobre complôs na Cúria Romana para esconder supostos desvios de recursos e malversação de fundos da Igreja, em uma manobra que parecia ter como alvo o cardeal Tarcísio Bertone, o poderoso secretário de Estado do Vaticano.
Gabriele afirmou mais tarde que resolveu divulgar os documentos porque acreditava que o papa estava sendo mantido pouco informado sobre o que se passava de condenável na Cúria. Dizia sentir-se invadido pelo "Espírito Santo" e que seu objetivo era apenas ajudar Bento XVI, evitando que ele fosse manipulado.
O processo contra Gabriele revelou um personagem singular. Disse que fez suas pesquisas em busca dos documentos em função de suas paixões pela espionagem, exoterismo e budismo. Gostava ainda de ler e investigar fatos ligados à maçonaria, principalmente os que envolveram a loja maçônica P2. A referência não era por acaso. A P2, dirigida por Lício Gelli, esteve no centro de um dos maiores escândalos político-financeiros da história recente da Itália, envolvendo a Máfia e o banqueiro Michele Sindona, assessor financeiro do Banco do Vaticano.
Além de Gabriele, o técnico em informática Claudio Sciarpelletti foi condenado no escândalo do Vatileaks, sob a acusação de ter ajudado o ex-mordomo a cometer o crime. Sciarpelletti também obteve o perdão de Joseph Ratzinger. Condenado a dois meses de suspensão no trabalho, o técnico em informática voltou ao emprego no Vaticano. Depois acabou sendo afastado do escritório de informação da Secretaria de Estado e passou a atuar no setor de estatística da pasta. / M.G.
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