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Austríaco diz que prendeu filha para livrá-la das drogas

Polícia continua interrogando homem que prendeu num porão e abusou da filha durante 24 anos

Por Luis Fernando Ramos
Atualização:

O austríaco Josef Fritzl, que admitiu ter abusado sexualmente da filha Elisabeth durante os 24 anos em que a manteve dentro de um porão, disse nesta terça-feira, 29, à polícia que a prendeu para livrá-la das drogas. "Ela era uma menina difícil", disse ele à polícia.   Veja também: Austríaco confessa que prendeu e cometeu abusos contra filha Jovem seqüestrada quer ajudar mulher abusada pelo pai Filhos de Elisabeth vão ter dificuldade de integração social No segundo dia de depoimentos à polícia, Fritzl começou a dar mais detalhes sobre sua maneira de agir e sobre os motivos que o levaram a cometer os crimes. Ele contou à polícia que o destino de três dos sete filhos que teve com a filha foi traçado logo após o parto. Como as crianças choravam muito, ele optou por retirá-los do cativeiro e levá-los para o andar de cima onde morava com a mulher - e avó - das crianças.   Ainda segundo a polícia, o austríaco disse que levava roupas e comida às quatro pessoas que moravam no porão de sua casa durante a noite. Josef trabalhava como agente imobiliário e viajava muito para cidades vizinhas, onde fazia todas as compras para a família que mantinha no porão. Elisabeth, hoje com 42 anos, cinco de seus seis filhos, e sua mãe Rosemarie estão sendo tratados na clínica psiquiátrica Amstetten-Mauer e mantidos juntos numa ala isolada do local.  "Eles passam relativamente bem, mas estão naturalmente abalados com o que aconteceu", afirmou o chefe da clínica Berthold Kepplinger. Ainda segundo ele, colocar toda a família no mesmo recinto é o melhor caminho. "Assim eles terão a oportunidade de se conhecer melhor. Eles já estão conversando entre si", afirmou. De acordo com a investigação policial, Rosemarie Fritzl e as três crianças que moravam na casa não sabiam do que acontecia no porão. Kerstin Fritzl, a filha mais velha de Elisabeth, continua sendo tratada no Centro de Terapia Intensiva do Hospital Regional de Amstetten. Seu estado de saúde, após viver 19 anos trancafiada em um porão, ainda é considerado crítico pelos médicos. "Ela nunca teve contato com diversas bactérias, seu sistema imunológico ainda está completamente aberto", afirmou o chefe da pediatria do hospital, Arnold Pollak. Natascha Kampusch, que também viveu em cativeiro durante oito anos em outro caso que chocou a Áustria, disse estar disposta a ajudar Elisabeth e sua família, inclusive financeiramente. "Temos de lembrar que eles cresceram em um porão e terão dificuldades no contato social. Um pouco de dinheiro sempre ajuda".   Abusos   Fritzl admitiu ter abusado sexualmente da filha, com quem teve sete filhos - todos nascidos no cativeiro. Segundo jornais austríacos, o caso foi descoberto depois que Kerstin, a filha mais velha de Elisabeth, de 19 anos, foi internada em estado grave e a polícia recebeu uma ligação anônima denunciando os abusos, o que indicaria que alguém sabia - ou pelo menos suspeitava - de Fritzl. Segundo Elisabeth, seu pai iniciou os abusos quando ela tinha 11 anos. Aos 16 e aos 18 ela tentou fugir de casa. Após essa última tentativa, Fritzl enganou Elisabeth para que ela entrasse no porão, onde a algemou e a drogou. À família, o austríaco afirmava que a jovem havia fugido para viver com uma seita. Das sete crianças que Fritzl teve com Elisabeth, três viviam no cativeiro desde o nascimento e nunca viram a luz do dia: além de Kerstin, Stefan, de 18 anos, e Felix, de 5. Os outros - Lisa, de 15 anos, Monica, de 14, e Alexander, de 12 - viviam com Fritzl e sua mulher, Rosemarie, que aparentemente não sabia dos abusos. O irmão gêmeo de Alexander morreu logo depois do parto e seu corpo foi incinerado por Fritzl. Para justificar a presença dos filhos de Elisabeth, Fritzl disse que a filha os havia abandonado recém-nascidos em sua porta (em 1993, 1994 e 1997), sempre acompanhados de uma carta na qual afirmava não poder cuidar das crianças. O drama de Elisabeth começou a vir à tona quando Kerstin foi internada por Fritzl em estado grave, aparentemente sofrendo de uma doença degenerativa, conseqüência do incesto. Sem informações sobre a mãe da menina, as autoridades fizeram um apelo na TV. Elisabeth teria convencido então o pai a deixar que ela e os outros dois filhos saíssem do cativeiro, para conversar com os médicos. Segundo o hospital onde Kerstin foi internada, a jovem está em coma induzido. Uma denúncia anônima levou a polícia a deter Fritzl e Elisabeth quando estavam perto do hospital. Não está claro se a polícia austríaca sabe quem foi o autor da denúncia. Segundo a CNN e o jornal Austria Today, Elisabeth teria colocado um recado pedindo socorro no bolso da roupa da filha, mas essa informação também não foi confirmada. Fritzl, descrito pela polícia como "autoritário" e "inteligente", proibiu sua mulher e os seis irmãos de Elisabeth de chegarem perto do porão. Para assegurar-se de que não seria alvo de suspeitas, o engenheiro sempre reclamava da falta de empenho da polícia para encontrar sua filha. Os vizinhos mostraram-se chocados com o caso. "Ele (Fritzl) era reservado, mas sempre nos cumprimentava de maneira amigável", disse um dos moradores do bairro. Se condenado, Fritzl pode ser sentenciado a até 15 anos de prisão.   (Com BBC, The Guardian e agências internacionais)

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