PUBLICIDADE

Bailarinos brasileiros brilham nos palcos de Miami

Eles serão destaque de uma grande apresentação do Miami City Ballet, 8º maior companhia de dança dos EUA, no Arsht Center for the Performing Arts, no dia 25 de outubro

colunista convidado
Por Chris Delboni
Atualização:

Nathalia Arja começou a dançar com 5 anos na Escola de Dança Alice Arja, de sua mãe, no Rio de Janeiro.Dez anos depois, mandou um vídeo para estudar na oitava maior companhia de dança dos Estados Unidos, a Miami City Ballet. Foi aceita e chegou com 16 anos. Hoje é solista da companhia. "Meu sonho era viver da dança, e isso já está acontecendo na minha vida", diz. "Agora falta a outra metade, que é chegar a primeira bailarina do Miami City Ballet aqui - meu maior sonho." 

PUBLICIDADE

No dia 25 de outubro, ela terá papel principal na apresentação no Arsht Center for the Performing Arts em Miami. O evento, parte do programa Ballet Beyond Borders: The International Program (Balé Sem Fronteiras: Um Programa Internacional), será composto de três coreografias -  Lago dos Cisnes, Viscera e Fancy Free - e tem como objetivo arrecadar fundos para bolsas de estudos para jovens brasileiros que sonham com carreira de bailarinos.

Atualmente, os brasileiros compõem 70% de todos os alunos estrangeiros na escola do Miami City Ballet, e 14% do corpo de baile profissional. 

Mas nem sempre foi assim. Quando Nathalia chegou, só havia um brasileiro. "No princípio foi difícil, por sermos brasileiros, latinos", conta. "Ganhávamos muitas partes principais, tão jovens, então, de início foi difícil fazer amizades, mas hoje aqui é minha casa, minha família."

A apresentação deste mês é uma iniciativa do embaixador Hélio Vitor Ramos Filho, cônsul-geral do Brasil em Miami. Quando visitou o Miami City Ballet em julho e conversou com quase 100 alunos brasileiros num programa especial de verão, não teve dúvida.

Nathalia Arja, 23 anos, chegou no Miami City Ballet em 2009, e hoje é solista da companhia Foto: Chris Delboni/Estadão

"A expressiva participação de brasileiros nos programas desenvolvidos pela instituição afigura-se como mais um elemento que demonstra a relevância da nossa comunidade na Flórida e seguramente constitui oportunidade para o desenvolvimento de novas iniciativas de cooperação cultural e educacional", diz o embaixador Hélio Ramos.

O consulado contatou Eva Silverstein, diretora de desenvolvimento do balé, para oferecer seu apoio e colaboração, e propôs o evento, que será uma oportunidade para a comunidade brasileira em Miami conhecer melhor o trabalho desses jovens talentosos.

Publicidade

Um deles é Luiz Fernando da Silva, de 19 anos. Ele veio de Barra Mansa, interior do Rio de Janeiro, com bolsa de estudos integral e o apoio de sua "madrinha" de balé, Maria Angélica Ancêde Monteiro da Costa, diretora da Escola de Dança Fundação Porto Real, onde se formou.

"Sempre tive o sonho de dançar, não de ser bailarino clássico", diz Luiz Fernando, que começou a carreira com 15 anos e logo se apaixonou pela profissão. "No primeiro ano foi tudo muito complicado porque era tudo muito novo, e por causa do tempo perdido, tive que correr muito atrás das coisas para poder conseguir chegar num nível que me permitisse participar de concursos ou audições."

Em 2012, passou 10 dias no YAGP - Youth American Grand Prix - em Nova York, e ganhou uma bolsa para a escola Orlando Ballet, mas não se julgou preparado. Retornou ao Brasil, concluiu os estudos, e, no ano seguinte, concorreu a uma vaga para o curso de verão de cinco semanas no Miami City Ballet, sendo aceito com bolsa integral de estudos e moradia.

No final do curso, foi convidado para participar do ano letivo, acertou as coisas no Brasil e voltou para Miami em janeiro de 2014, desta vez, para morar.

"Meus pais não teriam condições de me manter, mas a diretora da minha escola, madrinha e patrocinadora [Maria Angélica], me ajuda desde sempre, e quando falei que queria vir, ela disse: 'se você quer realmente ir, vou te dar todo apoio que precisar lá até você conseguir se profissionalizar e conseguir um emprego, entrar para companhia e seguir sua carreira como bailarino profissional'", conta.

O "aprendiz" Luiz Fernando da Silva, 19, está no Miami City Ballet há um ano e meio. Seu sonho é fazer parte integral da companhia de dança Foto: Chris Delboni/Estadão

Hoje Luiz Fernando da Silva é aprendiz do Miami City Ballet. "Meu sonho é conseguir um contrato - e ficar nessa companhia, e aqui construir minha carreira e chegar a primeiro bailarino." 

O programa de cinco semanas de verão é muito competitivo e inclui alunos do mundo inteiro. Alice Arja, mãe da Nathalia, é representante oficial das audições na América do Sul, responsável por esse aumento significativo das oportunidades para jovens bailarinos brasileiros, como Luiz Fernando. 

Publicidade

Além das audições para o curso intensivo de verão, Alice coordena desde 2008 um programa especial só para brasileiros. Começou com 20 alunos. Este ano teve quase 100 e continua crescendo.

"Nossa expectativa é levar 120 crianças [em 2016] para o curso de duas semanas e 20 para o de cinco semanas", diz Alice.

As inscrições para o programa de duas semanas estão abertas e as audições para ambos os cursos de verão vão começar em novembro. Já estão confirmadas no Brasil -no Rio de Janeiro, São Paulo, Campina Grande, Roraima, Porto Alegre, Belo Horizonte e Bahia - além de outros países, como Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina. 

Darleen Callaghan, diretora da escola, diz que "herdou" o programa quando assumiu o cargo há dois anos, e ajudou a revigorá-lo. 

"No meu primeiro mês, conheci Nathalia e Alice e disse: 'adoro a ideia, vou apoiar'".

E é com enorme entusiasmo que ela não só apoia, mas incentiva bailarinos brasileiros, como Luiz Fernando e Nathalia.

"Os alunos brasileiros são talentosos, artistas com instinto natural para performance, paixão pela dança, e muito agradecidos pela oportunidade", diz a diretora, que também se diz muito grata ao consulado do Brasil pelo apoio a uma iniciativa que pode gerar fundos para trazer novos talentos para sua companhia de dança. 

Publicidade

"Não acredito que já tenha sido feito algo assim antes nessa escala. Isso tem um tremendo significado para nós", diz. "Queremos muito que essa relação e parceria continuem. É a primeira vez que o público está se dando conta de que muitos de nossos bailarinos são brasileiros."

Twitter: chrisdelboni 

Serviço: Ballet Beyond Borders 25 de outubro - 14 horas Adriane Arsht Center - Ziff Ballet Opera House (1300 Biscayne Boulevard, Miami) Ingressos: De US$ 20 a US$ 99 (+ taxas).Podem ser adquiridos pelo site http://www.arshtcenter.org/Tickets/Calendar/2015-2016-Season/Miami-City-Ballet/Program-I-Swan-Lake/

Miami City Ballet: http://miamicityballet.org/school Stella Braudy, coordenadora da escola e relações internacionais (fala português) Telefone:305-929-7007 - ext.: 1802; e-mail: stella@miamicityballet.org Escola de Dança Alice Arja: http://www.alicearja.com.br Contato: Renato Valverde, producao@ciadeballetdorj.com.br, no Rio de Janeiro: 021-2424-8767. 

Audições: As inscrições para o curso de duas semanas estão abertas e as audições para os dois programas de verão estão marcadas para 7 de novembro no Rio de Janeiro e 8 de novembro em São Paulo. Outros lugares confirmados: Campina Grande, Roraima, Porto Alegre, Belo Horizonte e Bahia no Brasil, assim como no Chile, Paraguai, Uruguai e Argentina.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.