PUBLICIDADE

Baleias de Bryde: na mira da pesquisa

Primeiro cruzeiro de observação das baleias de Bryde, nas ilhas da costa paulista, registra sete 7 animais. Dados da pesquisa devem contribuir para a definição do status da espécie, pouco conhecida e ainda caçada. Parques marinhos podem estar relacionados ao aumento da freqüência de visitas nos mares brasileiros.

Por Agencia Estado
Atualização:

Após dois anos de levantamento de dados em terra e coleta de registros com mergulhadores e navegadores, a bióloga e oceanógrafa Mabel Augustowski, do Centro de Estudos e Conservação Marinha (Cemar) organizou o primeiro cruzeiro de observação de baleias de Bryde, na costa de São Paulo. Pelo menos 7 animais foram observados durante os 6 dias do cruzeiro, realizado no final deste mês de janeiro. Embora preliminares, os primeiros dados já podem contribuir para a conservação da espécie, classificada como insuficientemente conhecida e, por isso, ainda caçada. "As baleias de Bryde são mais difíceis de observar porque não ficam muito paradas, nem perto da costa, como as baleias franca (no litoral catarinense) e jubarte (no litoral baiano), mas há indícios de que o fato das ilhas paulistas serem unidades de conservação, onde a pesca é proibida, favorece sua presença na região, para onde viriam se alimentar", comenta Mabel. A espécie, cientificamente chamada de Balaenoptera edeni, prefere os pequenos peixes de cardume e não migra para mares polares. Aparentemente a migração ocorre no sentido longitudinal, entre as ilhas continentais e o alto mar, além de 100km da costa. Os registros, no Brasil, são mais freqüentes na primavera e verão, e grupos de baleias tem sido avistados principalmente no Parque Estadual da Laje de Santos. As demais avistagens foram de indivíduos isolados. Entre os resultados de pesquisa esperados estão subsídios para conservação da espécie e para a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul. O santuário vem sendo proposto pelo Brasil à Comissão Internacional das Baleias (IWC), há alguns anos, e já conta com a adesão de 20 países, como Argentina, Estados Unidos e África do Sul. Os grupos de pesquisa para subsidiar as medidas de conservação são poucos, localizados na África do Sul, Venezuela e Nova Zelândia. A baleia de Bryde é encontrada praticamente em todos os mares quentes (em torno de 20oC) entre a zona temperada e sub-tropical. Os animais adultos pesam, em média de 12 a 16 toneladas e têm de 12 a 14 metros de comprimento, sendo que as fêmeas são ligeiramente maiores do que os machos. Os filhotes já nascem com 4 metros, pesando cerca de uma tonelada. Trata-se de uma espécie do topo da cadeia alimentar, que, além de peixes de cardumes, alimenta-se de moluscos e crustáceos de mares profundos (pelágicos), através de barbatanas (não tem dentes). A baleia de Bryde ainda está entre os mamíferos, que alcançam maior profundidade no mergulho. O reconhecimento da espécie, durante viagens de observação, é feito pelo formato da cabeça com 3 faixas proeminentes, por seus dois orifícios de respiração e pequena nadadeira dorsal. Às vezes é confundida com outro animal do mesmo gênero, a Baleia Sei (Balaenoptera borealis), que é um pouco maior e alimenta-se praticamente na superfície. O reconhecimento dos indivíduos, importante para o censo e determinação do status da espécie, é ainda mais complicado, porque elas não tem calosidades na cabeça, como as francas, nem manchas na cauda, como as jubartes. "Durante o cruzeiro, começamos a testar um modo de identificação dos indivíduos, através do formato da nadadeira dorsal, que é a parte mais exibida", explica Mabel. As baleias também foram fotografadas e filmadas, na superfície e debaixo d´água, pelo especialista Eduardo Meurer. As imagens devem contribuir para uma definição melhor do método de identificação de indivíduos. Um segundo cruzeiro de observação está previsto para o final do verão. E os pesquisadores estão buscando novos parceiros, para viabilizar a observação além dos 100 km, em outras estações do ano. Os estudos do Cemar - que é subordinado à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo - contam com o apoio da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e, neste início de projeto, obtiveram recursos para os cruzeiros junto ao Marine Conservation Action Fund, de Massachussets, EUA. Mabel Augustowski ressalta ainda a colaboração dos operadores de mergulho, guias e dive masters, na coleta de dados e relatório de observações visuais. No fim de 2002, eles fizeram um curso de capacitação, organizado pela Cemar, para aprender a reconhecer corretamente as baleias de Bryde e assim ampliar sua contribuição voluntária.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.