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Barra de Ouro

Colunista fala sobre as confissões da entrevistadora Barbara Walters.

Por Lucas Mendes
Atualização:

Maldita ou bendita Barbara Walters? Todos os jornalistas da minha geração, em especial os de televisão, foram afetados pela entrevistadora número um do telejornalismo americano,  também conhecida pelo apelido de Baba Wawa. Ela começou como relações públicas e produtora da rede CBS. Pesquisava e escrevia textos para celebridades que apareciam no programa matinal que competia com a NBC. Quando sentiu que a carreira empacou, pediu demissão e pouco depois foi contratada pela ex-concorrente como redatora, às vezes entrevistadora ou repórter. O talento dela aflorou, e em três anos conseguiu exclusivas com Mamie Eisenhower, Anwar Sadat e H. R. Haldeman. Quando abriu uma vaga inesperada, conquistou mais espaço e firmou sua reputação de entrevistadora. A resposta da audiência foi positiva e deram a ela a co-ancoragem do programa matinal. A imprensa escrita respondeu com elogios e títulos. Baba entrou nas listas de mulheres mais influentes  e de maior futuro da televisão. Outras mulheres e homens também se beneficiaram do sucesso dela. Foi quando veio o salário de um milhão de dólares, o maior do telejornalismo, como co-âncora, a primeira mulher, do principal jornal da rede ABC, a terceirona ainda inexpressiva em jornalismo. Trabalhava ao lado de Harry Reasoner, que não a suportava. Naquela época, os grandes âncoras como Walter Cronkite, John Chancellor e seu colega de mesa ganhavam na faixa de US$ 400 mil. Houve uma explosão de salários. Âncoras e correspondentes viraram estrelas, enquanto os salários de repórteres menos conhecidos, redatores e produtores subiam lentamente, mas o  telejornalismo nunca teve tanto prestígio e dinheiro. Foi neste ano, em 76, quando eu começava na televisão, que levei minha primeira bronca na Globo. Foi até suave, via fax. Minha chefe, Alice-Maria, havia me pedido uma entrevista com a entrevistadora. Era impossível, mas um jornal do Rio publicou uma matéria com o furo. Fui cobrado, apurei e minha colega responsável pela proeza me disse que não tinha entrevistado Barbara. Foi uma distorção do redator que pegou uma frase da Barbara, aspeou e deu como exclusiva. Enviei por fax uma resposta indelicada para a educada e impecável Alice-Maria e levei outra bronca do Armando Nogueira. Às vezes sou grosso e impaciente na minha correspondência, inclusive com chefes. Uma bobagem. Barbara continua ativa no vídeo aos 78 anos, e na sua recém lançada autobiografia, Audition, a novidade explosiva é a revelação dos affairs que ela teve, quando beirava os 60, entre eles com Edward Brooke, um senador negro, casado,  republicano, de Massachusetts. Ela acabou com o affair quando um amigo, o secretário de comércio do presidente Nixon, disse a ela que os chefes da rede iam reagir mal se soubessem do caso. Barbara disse bye-bye ao amante, mas ele já havia pedido divórcio à mulher dele. Ao mesmo tempo, ela estava tendo outros affairs, um com Allan Greenspan, futuro presidente do Banco Central, e com Allan Greeberg, futuro presidente da Bear and Sterns. Ela gostava de homens poderosos, mas a empregada dela, uma latina, não sabia qual dos Allans tinha ligado. Falava alto ou falava baixo, ela perguntava à empregada. Se era baixo era o Greenspan. Diga um nome importante ou de uma celebridade dos Estados Unidos ou internacional nos últimos 40 anos e provavelmente sentou com Barbara diante de uma câmera... Ela quebrou barreiras do sexo e do dinheiro e também tornou inseparável a fama da infâmia. Um dia Fidel Castro, noutro Monica Lewinsky, quase sempre furando a concorrência. A carreira dela teve tropeços, jamais fracassos, mas ela conta que vivia em dúvida permanente: eu deveria, poderia, queria ter feito melhor ou diferente. Por isto o titulo Audition. Acha que está sempre em teste. Há outras revelações íntimas sobre as drogas da filha e sobre  uma irmã com problemas mentais de quem Barbara confessa e se arrepende de ter sonegado afeto na infância. O livro é grosso - 600 páginas - e ela fala muito mas não conta tudo. Um dia dará uma grande entrevista. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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