PUBLICIDADE

BC eleva tom antiinflação, mas crise pode segurar juro

Por Renato Andrade
Atualização:

O Banco Central optou em outubro por uma parada técnica no ciclo de aumento do juro básico, mas mandou um aviso ao mercado: o processo pode ser retomado caso a inflação não volte à trajetória esperada. Analistas consideram que o tom antiinflacionário mais firme tem como objetivo manter a ancoragem das expectativas, mas a maioria espera nova manutenção da Selic em dezembro diante das incertezas ainda geradas pela crise externa. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu por unanimidade manter a Selic em 13,75 por cento ao ano, interrompendo o aperto monetário iniciado em abril. Mas na ata do encontro, divulgada nesta quinta-feira, o Copom deixou claro, em vários trechos, que o comportamento da inflação continua no centro das atenções e a política monetária pode ser "prontamente adequada às circunstâncias". "Ele manteve o discurso (contra a inflação), mas abriu portas para a continuidade da parada... A ata sugere que, se houver o próximo movimento, ele pode ser para cima --embora eu veja que será para baixo", afirmou Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB do Brasil. O BC "ressalta um cenário de preocupação com a inflação e que, ante isso, pode elevar (a Selic), mas está fazendo isso mais para a ancoragem das expectativas", acrescentou. O agravamento da crise financeira internacional foi um dos elementos cruciais que justificaram a interrupção do aumento do juro. Segundo avaliação do BC, por um lado, a consolidação de condições financeiras mais restritivas pode ampliar os efeitos da política monetária sobre a demanda, ou seja, reduzir o ritmo da atividade no país, que o Copom classifica como "robusto". Por outro lado, a tendência de desaquecimento da atividade econômica no mundo tem aumentado a aversão a risco, o que afeta a demanda por ativos brasileiros. Além disso, a trajetória de preços continua evidenciando a presença de "riscos inflacionários", o que pode comprometer o objetivo central do BC que é colocar a inflação no centro da meta já em 2009. "Em linhas gerais, a influência do cenário externo sobre a trajetória prospectiva da inflação brasileira continua sujeita a efeitos contraditórios, que podem atuar com intensidade distinta ao longo do tempo, e envolta em considerável incerteza", ponderaram os diretores do BC na ata. Silvo Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, destacou que o BC confirmou a visão "de que estamos em meio a um cenário de grande incerteza". PRONTO PARA AGIR Diante da possibilidade de altas pontuais dos preços se tornarem persistentes, o Copom deixou claro que o aumento do juro pode ser retomado, já que o BC mantém a avaliação de que é fundamental a "persistência de uma atuação cautelosa e tempestiva" da política monetária para assegurar que a inflação volte ao patamar de 4,5 por cento a partir do próximo ano. Ao longo de 2008, os índices de preços aceleraram no país. No primeiro semestre, a forte alta dos alimentos garantiu o avanço. A partir de setembro, com o agravamento da crise e a valorização do dólar, índices inflacionários como o IGP-M e o IGP-DI voltaram a ganhar fôlego. Em outubro, o IGP-M subiu 0,98 por cento. O IGP-DI, por sua vez, saltou 1,09 por cento, o segundo aumento consecutivo, depois que o índice registrou em agosto a primeira deflação desde 2006. Para não pairar dúvidas sobre qual o verdadeiro compromisso do BC, os diretores reafirmaram na ata que a política de juros tem que garantir a volta da inflação para os patamares desejados, evitando assim que incertezas identificadas no curto prazo se propaguem para "horizontes mais longos". "Na eventualidade de se verificar alteração no perfil de riscos que implique modificação do cenário prospectivo básico traçado para a inflação pelo Comitê neste momento, a postura da política monetária será prontamente adequada às circunstâncias", afirmaram os diretores no documento. Ainda assim, analistas ponderam que a taxa de juro deve ser mantida em dezembro, quando o Copom realiza a última reunião do ano. "Ele não mudou radicalmente o discurso, não está sinalizando queda, mas quando fala da importância do crédito para o crescimento ele abre a porta para manter o juro novamente em dezembro", acrescentou Padovani. Para Campos Neto, do Schahin, "todas as possibilidades estão em aberto", ainda que, neste momento, as projeções indiquem a manutenção do juro no próximo mês. "É certo que ele não terá uma situação muito mais definida em dezembro que o leve a mexer na política monetária." (Reportagem adicional de Vanessa Stelzer)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.