BC mantém cautela, mas reforça sinal de corte de juro

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Por RENATO ANDRADE E VANESSA STELZER
Atualização:

O Banco Central manteve sua tradicional cautela ao discutir, mas adiar, um corte de juro na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano. Mas a ata do encontro, divulgada nesta quinta-feira, reforçou as apostas do mercado em redução da taxa a partir de janeiro. Os diretores do BC avaliaram a possibilidade de cortar a Selic em 0,25 ponto percentual na semana passada, diante dos claros sinais de desaceleração da economia. Mas as incertezas que ainda cercam o comportamento da inflação acabaram pesando mais, o que levou o Copom a manter, por unanimidade, a taxa em 13,75 por cento ao ano. "Foi deixada uma grande janela para o início da redução dos juros já em janeiro, a persistirem os dados decepcionantes de atividade e o cenário mais benigno para a inflação", afirmou a Rosenberg Consultores Associados, em relatório. Na ata, o Copom deixou claro que as incertezas sobre a evolução da atividade no país deram lugar a uma deterioração, o que pode garantir um desaquecimento mais sustentado da demanda doméstica --movimento que pode ganhar intensidade com a crise internacional. QUASE CORTE "O comitê entende que a consolidação de condições financeiras restritivas por um período mais prolongado poderia ampliar de forma relevante os efeitos da política monetária sobre a demanda e, ao longo do tempo, sobre a inflação", apontou a ata, justificando o que gerou o debate de um possível corte da Selic já neste mês. "Entretanto, prevaleceu no comitê o entendimento de que a trajetória prospectiva central da inflação ainda justificaria a manutenção da taxa básica em seu patamar atual." Silvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin, acredita que o corte virá em janeiro. "O único ponto de risco que conseguimos ver na ata é a questão do câmbio. Caso o câmbio se comporte bem até a próxima reunião, não há dúvidas de que haverá o corte", acrescentou. Newton Rosa, economista-chefe da Sulamérica Investimento, que classificou a ata como "bastante moderada", também aposta em corte do juro a partir da reunião de 20 e 21 de janeiro. "Eles ainda consideram que as ameaças para um cenário menos benigno da inflação são grandes, mas reconhecem que a repercussão da crise tem gerado contração na oferta do crédito, que tem se refletindo em atividade mais baixa, o que pode compensar a desvalorização do câmbio decorrente da própria crise", disse. Uma das preocupações externadas pelo BC na ata é a possibilidade de 2009 repetir o desempenho dos índices de preços visto ao longo dos últimos meses. Mesmo considerando que o risco de "materialização" de um cenário inflacionário "menos benigno" diminuiu em relação ao que se viu "há alguns meses", ele ainda segue "relevante", destacou a ata. "Cabe à política monetária evitar que a deterioração da dinâmica inflacionária observada em 2008 se torne permanente", acrescentou.

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