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Benefício fora da crise é questionado

Economistas não veem sentido em medidas anticíclicas com a economia em recuperação

Por Marcelo Rehder e
Atualização:

As seguidas concessões de benefícios fiscais feitas pelo governo federal, em um momento de recuperação da economia e de dificuldades na arrecadação, são questionadas por especialistas. Para alguns economistas, não faz sentido adotar medidas anticíclicas numa economia em crescimento."O governo poderia ter agido mais rapidamente no fim de 2008 e ter dado os incentivos para mais setores", diz o economista chefe da MB Associados, Sergio Vale. "Agora, com a economia em recuperação pelas próprias pernas, começa a ficar difícil imaginar justificativa para manter benefícios."O consultor tributário Clóvis Panzarini também diz ter dúvidas em relação a fazer política anticíclica "nesse momento em que a economia já começou a rodar". Por outro lado, observa que uma eventual queda na arrecadação poderia comprometer o superávit primário.O consultor tributário Amir Khair descarta essa possibilidade. "A redução do IPI será mais que compensada pelo aumento da arrecadação de outros impostos, como IR, PIS e Cofins."Já o economista da LCA Consultores, Douglas Uemura, acredita que a manutenção do IPI para carros flex, que respondem por 88,6% das vendas, vai manter o mercado aquecido no primeiro trimestre de 2010. Ele lembra que, em relação ao fim de 2008, os carros hoje estão em média 7% mais baratos. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informa que a redução do IPI em vigor desde dezembro possibilitou vendas de 400 mil veículos a mais do que o mercado absorveria sem a medida. Por essa conta, as vendas cairiam 14% ante 2008, para 2,4 milhões de unidades.Os resultados positivos da indústria automobilística neste ano, que terá venda recorde de mais de 3 milhões de veículos, não serão repicados na cadeia produtiva do setor em igual proporção. Fabricantes de autopeças, aço, pneus e plásticos projetam resultados similares ou inferiores aos de 2008, que teve o último trimestre atingido pela crise financeira internacional. Ainda assim, afirmam que o desempenho seria pior sem os incentivos que aumentaram as vendas de carros.As autopeças contabilizam, até outubro, queda de 21,9% no faturamento na comparação com igual período do ano passado. O nível de emprego, embora tenha reagido, está defasado em 3,7 mil postos em relação ao fim de 2008.As siderúrgicas, que fornecem 30% do aço às montadoras, acreditam que o IPI reduzido ajudará a manter as atividades no nível atual, mas não devem representar acréscimo nas vendas. Já o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) projeta queda de 10% nas vendas neste ano.A redução nas exportações é a principal explicação para a queda da produção, também das montadoras, que será 5% inferior a 2008. COLABOROU NATALIA GÓMEZ

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