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Berzoini prevê governo Dilma à esquerda, PT busca aliados

Por NATUZA NERY E FERNANDO EXMAN
Atualização:

Um eventual governo do PT a partir de 2011 daria uma guinada mais à esquerda e alinharia a atuação do Banco Central aos interesses do governo, afirmou à Reuters o presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP). O parlamentar garante, entretanto, que uma possível administração da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata à sucessão petista, não faria "aventuras" e manteria os fundamentos econômicos seguidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Berzoini, o comando do Banco Central na nova gestão precisaria estar alinhado aos desejos do Palácio do Planalto. "O Copom pode ter sempre seu debate técnico, que é o debate essencial para discutir política monetária, mas ele tem que casar esse debate com a vontade do governo federal, a vontade do Poder Executivo", disse. Desde a adoção do regime de metas de inflação, o Banco Central tem atuado com independência operacional, apesar de não ter autonomia institucional. Na linha da menor ortodoxia, o presidente do PT também defendeu um regime de metas de inflação mais flexível, focando as bandas e sem uma "preocupação excessiva" com o seu centro. Além disso, afirmou que a definição do superávit primário precisa levar em conta a manutenção do endividamento público no patamar atual, hoje em 37,6 por cento do Produto Interno Bruto. "A dívida interna não precisa se reduzida além de um terço do PIB." Berzoini compara a trajetória da economia brasileira à travessia de um transatlântico. De acordo com a metáfora, Lula evitou dar um "cavalo-de-pau" para não partir ao meio o transatlântico no início de seu governo e optou por um "choque de credibilidade". Dilma, por outro lado, poderá aproveitar as bases definidas pelo presidente Lula e a confiança do mercado para dar uma guinada maior na embarcação. "O governo Lula produziu os resultados suficientes para permitir que a curva do navio seja, não só continuada, mas mais acentuada. A curva do navio não precisa ser necessariamente ideológica, é uma curva de metas", destacou. O respaldo também viria da própria crise financeira internacional, que resgatou o debate sobre a maior presença do Estado na economia. Ex-ministro da Previdência e do Trabalho, Ricardo Berzoini não será presidente do PT quando a corrida eleitoral tiver sua largada oficial. Tradicionalmente em sintonia com o pensamento majoritário do governo e do partido, o deputado pode integrar a coordenação da campanha em 2010. Com 1,35 milhão de filiados, o PT tem eleições internas em novembro e o candidato mais cotado para assumir a direção é Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência da República. Em segundo mandato, Berzoini não pode concorrer novamente. ALIANÇAS OU ISOLAMENTO Em meio a dificuldades para compor parcerias locais em prol da disputa nacional, Berzoini alerta que as candidaturas próprias nos Estados são "secundárias" na composição política exigida nas negociações para a sucessão presidencial. "Óbvio que nem tudo pode ser atendido, mas algumas questões terão de ser atendidas para se chegar a um acordo (com os aliados). Ou, então, é o caminho do isolamento", alertou. Hoje, a coligação de apoio ao governo é composta por 14 partidos, mas sem garantia de adesão à candidatura presidencial. Para ele, o PMDB não virá inteiro para o lado do PT ou da oposição, mas o objetivo é concretizar uma chapa formal com a legenda. O tempo de televisão a que cada candidato tem direito depende da coligação nacional firmada por partidos. Ministra forte do governo, Dilma Rousseff tem pela frente uma forte adversidade que influenciará seu futuro como candidata: a compatibilização de sua campanha com o tratamento de um câncer no sistema linfático. LULAxSERRA A petista também enfrentará um nome muito bem cotado nas pesquisas de opinião. Enquanto o governador José Serra, pré-candidato do PSDB, tem até 47 por cento das intenções de voto para ocupar a Presidência, Dilma varia entre 11 a 16 por cento. A estratégia do PT em relação ao adversário, já vencido em 2002, será a da comparação entre as administrações de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Lula, informa Berzoini. Trata-se da mesma linha de ataque realizada contra o então candidato Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006. (Com reportagem adicional de Ray Colitt)

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