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Brasil entra na corrida para rastrear asteróides perigosos

A maior parte das buscas por ameaças do espaço se concentra nos céus do hemisfério norte

Por Carlos Orsi
Atualização:

No final de 2007 ou início de 2008, provavelmente em algum ponto do interior de Pernambuco, um telescópio construído na Alemanha, a pedido do Observatório Nacional brasileiro, começará a rastrear os céus em busca de objetos que possam representar um perigo para a vida na Terra - asteróides e cometas em rota de colisão com o nosso planeta. Trata-se do projeto Impacton, com custo total de R$ 1,3 milhão, encabeçado pela astrônoma Daniela Lazzaro. Veja também:Observatório NacionalNear-Earth Object Program (Nasa) Foguete brasileiro é lançado com sucesso no MA A idéia de que corpos celestes podem representar um perigo real entrou com força na consciência mundial no final dos anos 80, quando evidência científicas começaram a dar apoio á teoria de que a extinção dos dinossauros teria sido causada pela colisão de um enorme asteróide com o que hoje é território mexicano, 65 milhões de anos atrás. Embora impactos como o que abriu a cratera de Chicxulub no México sejam raros, um corpo não precisa ser gigantesco para provocar danos consideráveis em parte do globo - a Nasa estima que impactos capazes de causar catástrofes regionais ocorram com um intervalo médio de 100 anos. Já existem cerca de 4.700 objetos catalogados com trajetórias no espaço que os trazem para perto da Terra. Cientistas conduzem buscas sistemáticas por esses corpos - o Congresso americano exige que a Nasa apresente relatórios periódicos sobre o progresso desse esforço - e já foi criada até mesmo uma escala, chamada escala Torino, para avaliar o risco que cometas e asteróides representam para a Terra. Há, no entanto, um problema: a maior parte dessas buscas se concentra nos céus do hemisfério norte. "O hemisfério norte está bem coberto", explica Daniela. Por conta disso, "tínhamos de montar o nosso mais ao sul possível". Abaixo do equador, segundo a astrônoma, existem apenas um programa na Austrália, em parceria com os Estados Unidos, e um outro no Uruguai, que atuará em parceria com o programa brasileiro. "Nosso trabalho será muito focalizado na caracterização, no follow-up", ou acompanhamento dos corpos potencialmente perigosos detectados pelo programa uruguaio ou descobertos no hemisfério norte, mas que desapareçam do céu setentrional ao cruzar o equador, diz a astrônoma. Caso um corpo em rota de colisão com a Terra venha a ser detectado é preciso definir sua órbita: todos os objetos que já entraram na escala de Torino, por exemplo, acabaram caindo para o nível de risco mais baixo, zero, depois que suas órbitas foram determinadas com  maior precisão. Além disso, um objeto se aproximando da Terra pode ter diferentes massas e composições. Cada circunstância virá a exigir uma reação diferente, caso o perigo se confirme: alguns corpos podem ser destruídos, outros, talvez, apenas desviados. "É preciso saber qual o tipo para definir a melhor estratégia", explica Daniela. "Para saber qual a melhor estratégia, é preciso saber qual a estrutura do objeto, a porosidade, a massa. A gente está focalizando nisso". O telescópio do Impacton permitirá, segundo Daniela, determinar com precisão a órbita do corpo e as características de sua superfície. O equipamento será operado remotamente, do Rio de Janeiro: informações e comandos serão trocados via internet. Numa segunda fase do programa, a operação será realizada de modo automático, por meio de software específico. Atualmente, todos os objetos próximos da Terra conhecidos têm grau zero na escala de Torino - o que significa um risco de colisão virtualmente nulo. Mas, em 2029, o asteróide Apófis, de 225 metros, passará perto o bastante de nós para ter sua órbita alterada a ponto de criar um risco efetivo de colisão, entre 2036 e 2037. A chance de impacto é estimada, atualmente, em uma em 45.000. O que torna o choque mais provável do que se ganhar a Mega Sena, com um jogo de menos de 12 dezenas.

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