Brasil pode ter safra recorde de soja mesmo sem El Niño--analista

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Por Redação
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O Brasil tem grandes chances de colher uma safra recorde de soja na temporada 2012/13 mesmo que o fenômeno climático El Niño, que costuma trazer volumosas chuvas para as principais áreas produtoras, deixe de ocorrer ou aconteça de forma fraca nos próximos meses, de acordo com uma respeitada consultoria agrícola brasileira. Nesta quinta-feira, a Organização Mundial de Meteorologia, da ONU, previu que há apenas uma pequena possibilidade de ocorrência de El Niño antes do final do ano, assim como as condições climáticas deverão seguir neutras no primeiro trimestre de 2013. Isso reduz as chances de boas chuvas, especialmente no extremo Sul do país. "O cenário é esse mesmo, o enfraquecimento do El Niño e a redução da possibilidade de chuvas acima da média no Rio Grande do Sul", comentou o analista Fábio Meneghin, da Agroconsult, lembrando que os modelos climáticos ainda apontam precipitações mais volumosas em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e São Paulo. Segundo Meneghin, a Agroconsult já considera há algum tempo a possibilidade de o El Niño ser fraco ou até mesmo inexistente, e ainda assim estima uma safra recorde de 83,6 milhões de toneladas, com uma área plantada de 28 milhões de hectares, o que significaria um crescimento de 3 milhões de hectares ante a safra passada. Os produtores elevaram fortemente o plantio de soja na temporada 12/13, apostando nos preços recordes da oleaginosa no mercado internacional. Se o tempo colaborar, o Brasil superará o recorde de produção atingido em 10/11, de 75,3 milhões de toneladas. Em 11/12, quando a safra quebrou por seca no Sul, a colheita nacional somou 66,3 milhões de toneladas, de acordo com dados oficiais. O analista disse ainda que os modelos climáticos apontam uma preocupação com chuvas abaixo da média no Nordeste. Mas, segundo ele, mesmo que isso se confirme, a quebra de safra na região seria compensada pelo bom tempo na maior parte do centro-sul, à exceção do Rio Grande do Sul, que deverá ter precipitações dentro da média com alguns focos de chuvas abaixo da média, segundo a meteorologia. "Se chover abaixo da média no Nordeste... fizemos algumas simulações, a safra quebraria em 10 ou 20 por cento, mas chuvas acima da média no centro-sul podem elevar a produtividade, isso mais do que compensaria uma possível quebra de safra nesses Estados do Nordeste." Ele ponderou ainda que é "muito cedo" para falar em quebra de safra. A colheita brasileira é bastante esperada pelo mercado global, que enfrenta uma escassez após as perdas registradas nas lavouras norte-americanas neste ano. PRODUTIVIDADE MENOR Para a consultoria MB Agro, a neutralidade climática --ou seja, a não ocorrência do El Niño-- já é uma certeza, o que elimina a perspectiva de produtividades muito acima da média nas lavouras de soja nesta safra. "A gente já assumiu que não vai ser ano de El Niño", disse a analista Ana Laura Menegatti, especialista em soja. "Toda aquela expectativa de supersafra, com excelente produtividade em função do clima, não existe mais." A MB Agro reduziu no início de outubro a previsão de safra de soja para entre 75 milhões e 80 milhões de toneladas, ante 79-83 milhões de toneladas na projeção inicial, considerando a perspectiva de um El Niño mais fraco. Segundo Ana Laura, as atenções desta safra devem se concentrar no Sul do país, onde há sempre mais riscos de variações nas médias de temperatura e clima. "O risco de estiagem volta, principalmente no Sul do país", comentou. A consultoria AgRural também aponta uma mudança no panorama climático no Sul do Brasil. "Num ano neutro, as chuvas costumam ser irregulares no Sul, com períodos de muita chuva em alguns dias, seguidos com períodos de estiagem. Dependendo de quando acontece essa estiagem, pode haver quebra de safra", disse a analista Daniele Siqueira. "Muitos produtores aumentaram a área com expectativa de chuvas do El Niño e agora precisam ficar atentos", completou ela. As consultorias MB Agro, AgRural e Céleres, consultadas pela Reuters, dizem que devem reavaliar suas estimativas para a atual safra de soja entre o fim de dezembro e o mês de janeiro, quando será possível verificar os impactos climáticos para as lavouras. (Por Gustavo Bonato e Roberto Samora)

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