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Brasil poderá importar etanol

Governo já admite zerar alíquota de importação do produto comprado dos Estados Unidos

Por Nicola Pamplona , Eduardo Magossi e
Atualização:

VIÁVEL - Usina de etanol em Nevada, Iowa: preço do álcool americano está mais barato que o do Brasil

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RIO

Diante da escalada dos preços do etanol, governo e usineiros começam a contemplar a possibilidade de importação do combustível dos Estados Unidos. O tema já foi discutido em reuniões com o governo, que, segundo fontes, teria concordado em zerar a alíquota de importação do produto, hoje em 20%. As importações teriam como objetivo principal garantir o estoque de etanol para a enfrentar a entressafra na produção de cana-de-açúcar.

Do ponto de vista econômico, já vale à pena importar etanol dos Estados Unidos, mesmo com a tarifa de 20%. De acordo com cálculos do consultor Júlio Maria Borges, da Job Consultoria, especializada no setor sucroalcooleiro, o valor do anidro brasileiro nos portos do Nordeste está em torno de US$ 790 por metro cúbico, ante US$ 480 por metro cúbico do combustível produzido e comercializado nos Estados Unidos.

"A vantagem é de US$ 310, o que torna viável a operação mesmo com o imposto pago pelo importador", comenta o consultor. No Centro-Sul, o preço do anidro está em US$ 750, e a importação também seria viável, mas com maiores riscos ao importador. Com uma eventual mudança na tarifa, portanto, a vantagem nas importações aumentaria. O pedido para redução da tarifa é antigo, mas ganhou força nas últimas semanas diante do enxugamento da oferta interna.

"Se o consumo continuar no ritmo do fim do ano, na casa de 1,4 bilhão ou 1,5 bilhão de litros por mês, não há estoque suficiente para abastecer o mercado até março, abril", disse uma fonte do segmento de distribuição de combustíveis. Nos Estados Unidos, ao contrário, há excedente de oferta neste momento, dizem especialistas. Além disso, destaca Borges, o milho, usado como matéria-prima para o etano americano, está com o preço em baixa.

ASSUNTO ANTIGO

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O tema foi discutido com o governo na reunião que decidiu pela redução do porcentual de anidro na gasolina. Anteontem, esteve na pauta da reunião do conselho da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), confirmou o empresário e conselheiro da entidade, Maurílio Biagi Filho, lembrando que o pleito para redução da tarifa de importação é antigo.

Oficialmente, a Unica admite a possibilidade de importações, mas seu diretor técnico, Antônio Pádua, diz que o pedido pela redução da tarifa tem como objetivo dar um passo no sentido de transformar o etanol em commodity internacional. Os Estados Unidos vão rever este ano a tarifa para importações de etanol brasileiro e, segundo o argumento dos usineiros, a redução da tarifa brasileira abre maiores chances para que os americanos façam o mesmo.

"Seria um movimento importante, para mostrar que um mercado mais aberto é bom para eles também", diz um executivo de empresa produtora de cana-de-açúcar. Procurado pela Agência Estado, o Ministério da Fazenda informou que ainda não há decisão formal sobre as tarifas. É consenso no mercado que a possibilidade de importações não significa que haverá enxurrada de etanol americano no Brasil. "Trata-se de um problema pontual", argumenta uma fonte.

Para Borges, o Brasil poderia importar dos Estados Unidos um volume de até 1 bilhão de litros e assim suprir eventuais necessidades durante a entressafra. O período em que a importação é viável será curto, de acordo com Borges. "As importações devem ocorrer entre janeiro e abril, no máximo. Depois os preços internos voltarão a cair no Brasil e esta janela de oportunidade vai sumir." Há no mercado rumores de que algumas empresas estão sondando produtores americanos, mas não há negócios fechados por enquanto.

Desde o início de outubro, o etanol anidro vem sendo comercializado pelas usinas de São Paulo a valores acima de R$ 1 por litro, sem impostos. Na última semana, atingiu R$ 1,2892, valor 65% superior ao do mesmo período do ano passado e, sem correção, recorde na série histórica compilada pelo Cepea/Esalq. A alta na última semana indica que a redução do porcentual de anidro na gasolina, decidida no início da semana passada, ainda não surtiu efeito.

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