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Briga de condomínio vira processo de crime organizado

Por AE
Atualização:

Morar em uma área três vezes maior do que a do Parque do Ibirapuera, com cinco milhões de metros quadrados, nascentes de rio, duas lagoas limpas e mais de 40 parques com trechos de mata atlântica preservados. E tudo isso a meia hora de São Paulo, em Embu-Guaçu. Com esses atrativos, o Condomínio Interlagos Sul atraiu moradores de alta renda, em ruas sem iluminação, pensada para não espantar os macacos, suçuaranas, veados e tatus que vivem na área do loteamento. Criado em 1989, o paraíso começou nos últimos dois anos, no entanto, a registrar uma série de eventos que davam sinais de que algo estava errado. Após mais de um ano de confusão, a mobilização de moradores e 400 horas de escutas, a briga de condomínio acabou indo parar no grupo especial do Ministério Público que tem a atribuição de combater o crime organizado (Gaeco).A principal acusação é de que a associação de moradores, com a conivência de políticos e policiais, cortou ilegalmente 5% de mata nativa, o que corresponde a 250 mil metros quadrados ou 500 campos de futebol. "Como apareceram indícios de crime ambiental, de corrupção policial e de autoridades municipais, assumimos o caso. Agora vamos investigar se realmente há atuação de crime organizado ou se trata de uma briga de condomínio superdimensionada", afirma o promotor do Gaeco, Everton Luiz Zanella.MotosserraA história dos supostos crimes vieram à tona pelo depoimento de Leonardo Chiesi, que era conselheiro fiscal da associação e participou do suposto esquema de corte de árvores. Chiesi gravou mais de 400 horas de conversa com interlocutores, entre eles o ex-secretário municipal do Meio Ambiente, Oséias Florêncio da Silva. Inicialmente, segundo Chiesi, a intenção era tirar proveito da receita elevada que o condomínio arrecadava dos moradores. Com 1.385 lotes e mensalidades de R$ 250, o faturamento anual do condomínio é de R$ 4 milhões. Foi montada uma empresa de segurança, em nome do diretor do fórum da cidade, Maurício Antonio de Oliveira, que cobraria mais caro e oferecia serviço de qualidade inferior. A empresa contratava e tinha apoio de policiais da cidade.Chiesi ajudou a bancar os investimentos iniciais da empresa de segurança, mas não foi ressarcido. Para não ficar no prejuízo, em conversa com o presidente da associação, Flávio Nishikata, segundo conta, combinou de iniciar os cortes para depois negociar com madeireiras. Ganhou na associação o cadastro de moradores. Ligava para oferecer a poda, mas cortava muito mais do que o autorizado. Tinha licenças da Prefeitura, que não enviava o fiscal para checar os estragos. O plano era faturar R$ 300 mil com a venda de 4 mil metros cúbicos de madeira. Mas o esquema foi denunciado antes.DefesaO prefeito de Embu-Guaçu, Clodoaldo Leite da Silva, admite que houve problemas. "Quando vimos que havia um corte excessivo de árvores, abrimos sindicância e demitimos o secretário", disse. O ex-secretário do Meio Ambiente, Oséias Lourenço da Silva, nega que tenha participado de esquema e afirma que não fiscalizou por falta de estrutura. "Existe um carro para 172 milhões de metros quadrados na cidade", diz. O ex-presidente da associação de moradores, Flávio Nishikata, acusado de participar do esquema, nega as denúncias. Ele diz que o corte de árvores foi organizado pelo ex-conselheiro fiscal da associação, Leonardo Chiesi, que fez as denúncias ao Ministério Público. "Ele se ofereceu para podar árvores em risco. Seria ressarcido com dinheiro desses cortes. Não imaginávamos que iria extrapolar", afirmou Nishikata. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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