Cadê o fundo do poço?

O fundo do poço é mais embaixo, a julgar pelos últimos dados da indústria – produção, em agosto, 9% menor que a de um ano antes – e pelos indicadores muito ruins divulgados nos últimos dias, como a insegurança dos consumidores, o desemprego acima de 8% e a retração, já muito longa, das compras de máquinas e equipamentos. Nem os US$ 10,25 bilhões de superávit comercial acumulados de janeiro a setembro são muito animadores, porque esse resultado decorreu em boa parte da recessão. A receita de exportações, de US$ 144,49 bilhões, foi 16,3% inferior à de um ano antes, pela média dos dias úteis, mas o gasto com importações, de US$ 134,25 bilhões, caiu 22,6% entre os dois períodos.

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Por Redação
Atualização:

A redução do valor importado é atribuível a dois fatores principais. Um deles é a queda do consumo, do investimento produtivo e a redução da atividade industrial. O outro é a grande valorização do dólar, decorrente em parte das condições internacionais, mas principalmente da insegurança em relação à economia brasileira e à política econômica. O risco de mais um rebaixamento da nota de crédito do Brasil – o primeiro foi anunciado há semanas pela Standard & Poor’s – continua assombrando o mercado financeiro.

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Os novos números da crise industrial, recém-publicados pelo IBGE, combinam com a escuridão do cenário. Em agosto, a produção geral da indústria foi 1,2% menor que no mês anterior e 9% inferior à de um ano antes. O volume acumulado de janeiro a agosto ficou 6,9% abaixo do estimado para igual período de 2014. A queda em 12 meses chegou a 5,7%. Um dia antes a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgava sua sondagem mensal. Segundo essa pesquisa, o uso da capacidade instalada em agosto, de 77,9%, foi o mais baixo da série estatística iniciada em 2003.

Não pode haver, por enquanto, expectativa de uma firme retomada do crescimento econômico neste ou no próximo ano. Qualquer reativação dos negócios será limitada, inevitavelmente, pelo baixo potencial de produção. A indústria pouco investiu nos últimos anos para ampliar e modernizar sua capacidade produtiva.

De julho para agosto a fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, diminuiu mais 7,6% e ficou 33,2% abaixo do nível de agosto do ano passado. A comparação do número de janeiro a agosto com o dos meses correspondentes de 2014 indica uma queda de 22,4%. O confronto de 12 meses com 12 meses aponta redução de 18,4%.

Enquanto definhava a produção nacional de máquinas e equipamentos, a compra de bens de capital estrangeiros continuava em queda. De janeiro a setembro o gasto com a importação desses bens, no valor de US$ 29,68 bilhões, foi 17,1% menor que o de um ano antes, pela média dos dias úteis.

Máquinas e equipamentos, portanto, nem nacionais nem fabricados no exterior: quem estará disposto a gastar com investimento produtivo quando há tanta insegurança econômica, tanta incerteza quanto à orientação do governo e tanta instabilidade política? Até agosto, os desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 85 bilhões, foram 25% menores que os do ano anterior. Mas o dado mais significativo é outro: as consultas diminuíram 49% de um ano para outro.

Esses números – complementados, naturalmente, pelo fiasco dos programas de infraestrutura – reforçam a recente advertência do ministro da Fazenda, Joaquim Levy: sem investimentos, qualquer reativação da economia poderá terminar numa colisão com o muro da oferta. Não na demanda, mas na capacidade de oferta, insistiu, está o problema real do crescimento. Somados todos esses fatores e os tropeços da política econômica, fica muito arriscada qualquer aposta sobre o momento da reversão.

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O poço parece estar-se aprofundando, observou a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, comentando os números da indústria. Não há como desprezar essa hipótese tenebrosa.