Calculando sons

Indústria da música reúne profissionais de formação variada, do operador da mesa ao projetista de salas de concerto

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Por Carlos Lordelo
Atualização:

Um dos mais bem-sucedidos engenheiros de som da história não fez faculdade de Engenharia, mas de Música. O americano Bruce Swedien gravou e mixou o disco mais vendido do mundo -Thriller, de Michael Jackson. Ganhou cinco prêmios Grammy na carreira.O exemplo de Swedien ilustra o que poucos sabem: técnicos de som recebem o título de engenheiros sem ter curso superior de Engenharia. A formação mais comum para esses profissionais é oferecida em cursos técnicos que ensinam conceitos de áudio e acústica e o uso de equipamentos como microfones, alto-falantes e mesas de mixagem. É possível se aprofundar com graduação em Música ou por conta própria.Yuri Kalil, de 35 anos, optou pelo curso introdutório para poder trabalhar logo. Há 15 anos, quando se mudou do Ceará para São Paulo para ter aulas de bateria, fez matrícula no Instituto de Áudio e Vídeo (IAV), na Vila Mariana. Pouco depois, foi contratado pelo Mosh, maior estúdio do País. "Trabalhar com técnicos e produtores, inclusive gringos, foi minha faculdade." Hoje Kalil tem seu estúdio e produz artistas da nova geração, como Karina Buhr e Cidadão Instigado. Diz que o declínio da indústria fonográfica mudou comportamentos. "A geração passada era do business pesado, sustentado pelas gravadoras. Hoje, quem menos põe dinheiro no artista é a gravadora. Ele está mais livre para escolher com quem trabalhar, reduzindo os famosos conflitos de estúdio."Engenheiros também trabalham com música, projetando teatros e casas de show ou desenvolvendo equipamentos. Alunos de Engenharia Elétrica têm disciplinas que direcionam a graduação para a área de áudio. A Unicamp fornece certificado de estudos em engenharia de som a quem cursa seis matérias extras. Segundo o tutor do certificado, Rafael Mendes, o objetivo é que o aluno tenha conhecimentos básicos de acústica clássica e tratamento digital do som, linguagem e percepção musical. "Ele aprende a analisar o sinal musical e extrair suas propriedades, o que é conhecido por processamento de sinais de áudio."Outro campo de trabalho para engenheiros é o da acústica, que lida com questões relacionadas ao som e à vibração. No Brasil, está muito ligado a controle de ruídos na indústria. Mas a Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, lançou, em 2009, o primeiro curso de Engenharia Acústica do País. "O estudante vai conhecer mecanismos de produção, transmissão e recepção do som", diz o professor Andrey Ricardo da Silva. "E isso vai desde projetar caixas sonoras e teatros, entender como o homem processa o som e também atuar em políticas de prevenção a ruídos."Além de engenheiros de várias formações - civis, mecânicos e, agora, acústicos -, arquitetos atuam na área de acústica. É o caso de José Augusto Nepomuceno, consultor do projeto da badalada Sala São Paulo, na Estação Julio Prestes, centro paulistano. "Parece que o jardim interno da estação foi projetado para ser sala de concerto. Tem proporções similares a espaços referenciais de Amsterdã, Boston e Viena."Segundo o arquiteto, o projetista de áudio se preocupa em dotar espaços com uma sonoridade natural. "Ele analisa características construtivas e desenvolve um projeto que pode incluir simulação computacional, diagramas de sinais e extensos memoriais técnicos." A gente pode até não entender, mas nossos ouvidos agradecem.Onde estudarCursos técnicos na área de Áudio e AcústicaIAV (iav.com.br)Engenharia Elétrica com certificado de estudos em áudioUnicamp (fee.unicamp.br)UFMG (eletrica.eng.ufmg.br)Engenharia AcústicaUFSM (ufsm.br)

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