Câmbio joga sombra no crescimento do celular no Brasil

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Por Tais Fuoco
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Os efeitos ainda não se fizeram sentir, mas a oscilação cambial e a valorização da moeda norte-americana já paira como uma ameaça de que o crescimento de mais de 20 por cento ao ano no número de aparelhos celulares vendidos no Brasil possa sofrer um freio. Os temores atingem, de forma semelhante, fabricantes de aparelhos e de infra-estrutura presentes na Futurecom 2008. Almir Narcizo, presidente da Nokia, maior fabricante mundial de celulares, lembra que "95 por cento do custo do celular está atrelado ao dólar" e que, por isso, a pressão do câmbio é inevitável. A questão agora é saber até quando duram os estoques e em que momento pode chegar à população a retração na oferta do crédito, um dos fatores que contribuiu para o crescimento dos últimos anos. Narcizo acredita que sejam vendidos este ano 52 milhões de aparelhos, enquanto em 2007 foram por volta de 44 milhões. Para 2009, entretanto, espera "crescimento zero". O diretor comercial da sul-coreana LG no Brasil para a área de celulares, Carlos Melo, se diz "obrigado a concordar que, se empatar com 2008, já está bom". Além da volatilidade dos mercados chegar na véspera de um dos períodos mais fortes para o comércio --as festas de fim de ano-- "veio justamente na fase de planejamento para 2009", acrescentou Melo. A LG, por exemplo, falava em conquistar 25 por cento de participação de mercado, que hoje ela estima ser por volta de 22 por cento, mas Melo também informou que "o target de 25 por cento está sob avaliação diante do cenário de turbulência". A empresa também decidiu aguardar uma decisão já anunciada, de trazer modems para conexão na terceira geração de celular aos notebooks vendidos no Brasil. "Temos capacidade instalada, não seria difícil, mas diante da alta do dólar o produto ainda está em fase de estudos", disse Melo. DE OLHO NO CRÉDITO Na área de infra-estrutura, as preocupações também existem não só com o câmbio,mas com o crescimento econômico do país e a possibilidade de que falte crédito às operadoras. Jonio Foigel, presidente da Alcatel-Lucent, lembra que "o câmbio afeta com certeza o capex das operadoras, mas tudo vai depender do patamar em que ele se estabilizar". Caso o Brasil consiga manter o crescimento da economia mesmo com as oscilações cambiais, Foigel acredita que o país possa ter um ano "correto", sem sobressaltos. Mas a possibilidade de que falte crédito é vista com preocupação. "O BNDES tem um valor finito de recursos e não atende só ao setor de telecomunicações", lembrou ele. Caso as operadoras tenham dificuldade de captar recursos, poderão frear seus planos de crescimento. O consenso entre os fabricantes parece ser o de que o final deste ano está relativamente garantido, com pedidos em carteira dos fornecedores de infra-estrutura e aparelhos já entregues para praticamente todas as operadoras. Além disso, o setor conta a seu favor com a entrada das operadoras em novas regiões --como a Oi em São Paulo e a Vivo no Nordeste-- e a chegada de novos concorrentes, como a "aeiou". Mas o futuro ainda é incerto.

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