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Cardozo cobra apuração do conflito entre PF e índios

Por Vannildo Mendes
Atualização:

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou "apuração cuidadosa" de responsabilidades no conflito que resultou na morte de um índio e em pelo menos nove pessoas feridas - três policiais e seis índios. O incidente ocorreu na última quarta-feira, durante operação da Polícia Federal para destruir dragas em garimpos ilegais no norte do Estado de Mato Grosso. "Se comprovada qualquer situação de abuso, nós agiremos disciplinarmente", avisou. Ele ressalvou, porém, que os indícios e provas colhidas até agora demonstram que os policiais foram emboscados e agiram em legítima defesa para não serem trucidados.Segundo o ministro, a PF cumpria na região ordem judicial para afundar 14 balsas usadas por uma quadrilha para extração ilegal de ouro em rios da região, com cumplicidade de chefes indígenas. Citando escutas telefônicas e filmagens, ele disse que os índios tramaram a emboscada, enquanto seu chefe, o cacique José Emiliano Krixi, um dos feridos, negociava a realização pacífica da operação com o delegado Antônio Carlos Moriel, também ferido. "As escutas revelam - e os relatos comprovam - que os policiais teriam sido vítimas de uma emboscada", destacou o ministro.Uma das escutas, revelou, "mostra indígenas comentando entre eles, por telefone: vamos nos preparar para matar ou morrer". Então, continuou, "na hora em que se estava explodindo essa balsa, os policiais foram atacados com flechas e armas de fogo", disse, acrescentando que os policiais reagiram, dominaram a situação e apreenderam as armas. O delegado, ainda conforme o relato do ministro, foi alvejado por uma flecha quando estava em cima da balsa e teria inclusive caído no rio. "Os policiais, conforme essa versão, reagiram e houve o incidente lamentável com a morte desse indígena e outros feridos".Ele explicou que a operação, chamada Eldorado, foi desencadeada na região a pedido do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Investigações de vários meses, com agentes infiltrados na região e escutas telefônicas, segundo o ministro, reuniram "provas muito claras de abusos, com desmatamento indevido, infrações ao meio ambiente e outras situações ilegais". Diante disso, acrescentou, a Justiça Federal determinou a prisão de várias pessoas, inclusive de chefes indígenas envolvidos no esquema.Apesar das evidências de emboscada, Cardozo disse que determinou uma apuração isenta e rigorosa ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra. "Ele começou a reunir imagens, escutas e depoimentos de todas as partes", afirmou. "Se houve abuso de Policial Federal, será punido. Mas, claro, na medida em que também houve ato ilícito praticado por indígena, nós temos de fazer a aplicação da lei como ela se coloca", ressalvou.A Justiça Federal, conforme o ministro, acompanha todos os passos da operação e, diante das evidências de emboscada, determinou a prisão de 15 indígenas. As armas deles, todas de cano longo, também estão apreendidas. "Vamos agora aguardar a apuração. Eu garanto o seguinte: abusos, por quaisquer das pessoas envolvidas serão exemplarmente punidos. Eu não posso, a priori, fazer nenhum julgamento. Vamos verificar os fatos", concluiu.

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