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Carla Cepollina acusa assessor de matar coronel

Foto do author Adriana Ferraz
Por Adriana Ferraz
Atualização:

Depois de mais de cinco horas de interrogatório, Carla Cepollina, de 47 anos, disse na terça-feira, no segundo dia de julgamento, que a morte do coronel Ubiratan Guimarães, de 63 anos, em 2006, foi um crime político. Ela chegou a acusar um assessor do coronel, que na época tentava a reeleição como deputado estadual. O assessor e coronel da reserva Gerson Vitória, que também já morreu, havia levado um tapa do coronel dias antes do crime. Segundo a ré, Ubiratan foi morto por um esquema que envolveria arrecadação de dinheiro de campanha.Acusada pelo crime ocorrido em 9 de setembro de 2006, a advogada e namorada da vítima na época assumiu sua defesa no final do interrogatório, ao responder às perguntas do assistente de defesa, Eugênio Malavasi. Afirmou que não teve tratamento igualitário durante a investigação policial e criticou o trabalho dos delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que, segundo ela, a condenaram desde o início. "Não tive direito a uma luta justa ou pelo menos uma luta igual", disse Carla, referindo-se ao processo de investigação e de escolha de testemunhas.A ré também afirmou que a acusação não tem provas suficientes para condená-la. "Todo crime deixa um rastro. Mas essa acusação não tem provas para me condenar. Tem apenas uma historinha de quinta categoria." Durante o interrogatório feito pela defesa, a mãe e advogada de Carla, Liliana Prinzivalli, preferiu não fazer perguntas. Ao deixar o plenário, explicou que seria constrangedor uma mãe indagar a filha. "Os jurados poderiam pensar que estaria tudo combinado", disse Liliana.A ré começou seu interrogatório declarando que a acusação pela qual responde é "absurda". Segundo Carla, o coronel foi morto depois que ela deixou o apartamento dele, em 9 de setembro de 2006. Segura, ela chegou a fazer perguntas para o assistente da acusação, Vicente Cascione. Na tese apresentada por Carla, o coronel estava com medo nos dias anteriores ao crime. "Ele estava esquisito, falando o tempo todo de morte. Chegou a dizer que queria ser velado no (Palácio) 9 de Julho", disse. Segundo a ré, os dois passaram o dia do crime juntos.Entre 19h e 20h, suposto horário do crime, Carla afirmou que estava no apartamento. "Chegando lá, ele foi dormir, tinha bebido um montão. Eu fui tomar banho", disse. Quando saiu do chuveiro, Carla disse que ouviu o celular pessoal da vítima tocando e atendeu, já que ele dormia. "Vi que era a Renata (delegada da Polícia Federal apontada como amante da vítima). Ela pediu para falar com o Ubiratan e eu passei o telefone." De acordo com a ré, a ligação não deu início a nenhuma discussão."Depois, voltei a fazer minha toalete e o Ubiratan continuou a dormir."Por volta das 20h30, quando saía do apartamento, Carla reconheceu ter atendido novo telefonema da delegada, desta vez no número fixo. "Era a Renata novamente. Em um tom inadequado, pediu para falar com Ubiratan. Cheguei a chamar, mas ele não acordou e então falei para ela ligar depois."Com todas as falas ensaiadas, Carla disse que agiu normalmente após deixar a casa do namorado. Do carro, conversou com sua mãe e ainda tentou falar com a vítima e com um amigo dele, mas ambos não atenderam. A ré ressaltou por várias vezes que o namorado bebia demais e, por isso, era comum que ela saísse do apartamento sem avisá-lo.Ao juiz Bruno Ronchetti de Castro, a ré disse que só tomou conhecimento de que Ubiratan tinha amantes após a morte dele. Até o crime, os dois namoravam em harmonia, sem comprometimento. "Ele era inteligente, engraçado e extremamente sedutor. Nosso relacionamento era gostoso. Nunca brigamos." Carla ainda negou que quisesse casar e ter filhos, o que teria levado ao fim do relacionamento, segundo a acusação. "Sempre fui independente. Ele tinha a vida dele, eu a minha. Era assim que pretendíamos continuar."PolíciaCom tom mais agressivo, Carla disse que sofreu terror psicológico durante depoimentos que prestou aos policiais. Em uma ocasião, sem a presença de advogados, disse que passou 8h15 com quatro delegados e dois investigadores. "Eles blefaram por diversas vezes." Segundo Carla, a polícia a testava o tempo todo. "Eles eram maus, eram do Capão Redondo", referindo-se ao bairro da zona sul com altos índices de criminalidade.A citação sobre a origem dos policiais não foi o único momento em que a ré demonstrou pertencer a uma classe social mais privilegiada. Ao longo do interrogatório, Carla afirmou que Ubiratan havia se transformado a partir do namoro, dando a entender que sua influência o deixara mais requintado.Nesta quarta-feira, no terceiro dia, haverá debate entre defesa e acusação. Cada um terá uma hora e meia para convencer os jurados de sua tese. A defesa vai reforçar a ideia de crime político. A acusação deverá apresentar provas colhidas no processo, dando destaque às ligações feitas dentro do apartamento, que, segundo o promotor João Carlos Calsavara, colocam Carla na cena e no horário do crime, que teria sido entre 19h e 20h27. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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