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Carnaval paulistano tenta manter tradição do século 18

Sem patrocínio privado e com regras rígidas sobre barulho da Prefeitura, blocos lutam para sobreviver

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

A máxima de que São Paulo é o túmulo do samba obviamente é um exagero, uma piada até maldosa. Mas, de fato, há vários motivos para os cariocas continuarem com as suas chacotas sobre o carnaval paulistano. Desde 1968, quando o então prefeito Faria Lima (carioca, diga-se de passagem) oficializou o desfile de escolas de samba da cidade, os cordões carnavalescos entraram em franca decadência, perdendo o que o havia de mais popular e histórico no carnaval de São Paulo.   Quase sem verbas do governo, sem patrocínio privado e com regras cada vez mais rígidas sobre barulho e concentração de pessoas, grupos tradicionais como Fio de Ouro, Paulistano da Glória e Campos Elísios viraram memória, apenas rodapé da história. Nem sempre foi assim, claro. Até meados da década de 60, dezenas de cordões e blocos saíam de seus bairros nos sábados de carnaval e se encontravam no centro da capital para uma grande festa com milhares de foliões. Era uma tradição que remontava às procissões coloniais do século 18, quando os negros apresentavam a dança dos índios caiapós, ao batuque de grandes tambores para atrair o povo até o cortejo. Veja também:Blog: dicas para quem quer curtir e ou fugir da foliaEspecial: mapa das escolas no Rio e em SP Hoje, pelas ruas da metrópole, dez grandes blocos e bandas carnavalescas ainda mantêm essa folia acesa, contra todos os preconceitos, as leis rígidas da Prefeitura e as piadinhas dos cariocas. "A gente ainda faz carnaval por paixão, porque falta grana e sobram empecilhos da Prefeitura", diz João Carlos do Nascimento, que criou em 1989 com seus vizinhos de rua o Bloco Unidos da Maria Antônia. Um dos mais populares da cidade, o grupo atrai cerca de 10 mil pessoas no centro. "Da Prefeitura a gente ganha cerca de R$ 6 mil, mas só o carro elétrico custa R$ 4,5 mil. Fora que a gente tem de pagar segurança, instrumentos... Há três anos, paramos até de fazer camisetas, para economizar. É uma pena que as pessoas não valorizem mais os blocos de rua, pois no fundo é o que há de mais importante do carnaval paulistano", afirma. Neste ano, a São Paulo Turismo (SPTuris) destinou cerca de R$ 140 mil à Associação das Bandas Carnavalescas de São Paulo (Abasp), que reúne os grupos tidos como "oficiais" da cidade. "É muito pouco. Eles investem milhões de reais no carnaval do Anhembi", diz Candinho Neto, organizador da Banda do Candinho e presidente da Abasp. "A Prefeitura precisa olhar com mais cuidado para a gente, para resgatar o carnaval da comunidade, o carnaval livre de São Paulo." Calendário Bloco Grande Família: dia 7, 12h; Rua Brejo Alegre, 698, Brooklin. Roteiro: Ruas Brejo Alegre, Nova Independência e Pe. Antonio José dos Santos, entre outros Bloco Unidos da Maria Antonia: dia 13, 19h; Rua Dna. Maria Antonia com a Dr. Vila Nova, Vila Buarque. Roteiro: Ruas Maria Antonia, Major Sertório, Amaral Gurgel, Consolação e Maria Antonia Banda Bantantã: dia 13, 21h, Av. Waldemar Ferreira com Desembargador Armando Fairbanks. Roteiro: Av. Vital Brasil, Gaspar Moreira e Romão Gomes, entre outras Classe A: dia 14, 12h, Rua Souza Lima, 295. Roteiro: Ruas Souza Lima, Barra Funda, Eduardo Prado, Pça. Mal. Deodoro, Brigadeiro Galvão, Cons. Brotero, Barra Funda e Souza Lima, entre outras Bloco da Ressaca: dia 14, 14h, Lgo. do Cambuci. Roteiro: Lgo. do Cambuci, Ruas Luiz Gama, Cesário Ramalho, Jerônimo de Albuquerque, Silveira da Motta, Justo Azambuja, Rua do Lavapés e Lgo. do Cambuci, entre outras Banda Grone’s: dia 15, 13h, Rua Dr. Saturnino Villalva (Pça. Lions Club). Roteiro: Ruas Dr. Saturnino Villalva, Alcindo Bueno de Assis e Lavínia Pacheco e Silva, entre outras Banda Redonda: dia 16, 19h, Rua Theodoro Baima, com Consolação. Roteiro: Ruas Theodoro Baima, Consolação, Xavier de Toledo, Pça. Ramos de Azevedo, Lgo. do Paissandu, Av. São João, Av. Ipiranga, Pça. da República e Theodoro Baima, entre outras Bloco Umes Caras Pintadas: dia 17, 17h, Rua Rui Barbosa, 323. Roteiro: Ruas Rui Barbosa, Santo Antonio, 13 de Maio, Viad. Armandinho do Bixiga e Rui Barbosa

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