PUBLICIDADE

Casais egípcios competem por casa em programa de TV

Falta de moradia barata é apontada no país como razão de casamentos 'tardios'.

Por Yolande Knell
Atualização:

Um programa de televisão no Egito concentrou sua atenção em um dos principais problemas sociais do país - a falta de moradia barata - e está dando uma casa para os participantes. Todas as noites durante o período sagrado do Ramadã, um quiz show - programa de perguntas e respostas - popular no país dá um apartamento para casais que não podem se casar porque não têm dinheiro para comprar uma casa. O programa Al-Beit-Beitak (A Casa é Sua, em tradução livre) é transmitido ao vivo, e dois casais competem pelo prêmio que promete mudar suas vidas respondendo a perguntas de conhecimentos gerais e sobre o parceiro. No Egito, o casamento é a porta de entrada para a vida adulta. No entanto, estimativas indicam que cerca de metade dos homens egípcios permanecem solteiros mesmo depois dos 30 anos. A principal razão é o custo envolvido para se comprar e mobiliar uma casa no país. "É um problema grande", diz a produtora do programa Yara Hassan. "Muitas pessoas não conseguem comprar uma casa e estão sofrendo por causa disso." "Eles enfrentam um problema psicológico por causa do peso social e financeiro", acrescenta Hassan. Competição Em uma das noites, o casal formado pelo operário Hazem Abd Raouf, de quase 30 anos, e pela assistente odontológica Shaimaa Shawky demonstrava nervosismo no ensaio para o programa. Os dois estão juntos há oito anos. Do lado oposto, o outro casal da noite, formado pelos professores de inglês Rabad Mahnoud, de 30 anos, e Ashraf Aboubakr, de 31, trocava sorrisos. "A maior pressão quando você está tentando casar é encontrar um apartamento", disse Rabad. "Meu sonho é fazer o casamento logo. E essa é nossa chance, estamos torcendo por isso." "Estou esperando por tanto tempo", afirmou Shaimaa. "Se ganharmos o apartamento nesta noite, vamos correr para nos casarmos." Nenhum dos casais tem boas condições financeiras. Hazem e Shaimaa vêm de família pobre, e Rabad e Ashraf ganham pouco no sistema público de educação. Todos os quatro ainda moram com os pais. No início do programa, Ashraf e Rabad saem na frente nas perguntas sobre conhecimento geral. Hazem e Shaimaa tentam se recuperar, mas o prêmio fica com o casal rival, que ganha a competição nas perguntas sobre os gostos do parceiro. "Não posso acreditar, estou nas nuvens", comemorou Rabab. "Estou muito feliz porque, se tudo certo vou casar logo. O maior problema era o apartamento, o resto pode ser resolvido", completou Ashraf. O casal não perdeu tempo e marcou a data do casamento para 1º de janeiro de 2009. Crise De acordo com a socióloga Mona Abaza, da Universidade Americana no Cairo, "a instituição do casamento está em crise" no Egito. "É muito duro determinar o que um casal deve ter para se casar", afirma a socióloga. "A família exerce bastante pressão." Uma caminhada pela rua principal do Cairo não deixa explícito o problema da moradia. Ao contrário, há milhares de metros quadrados de novos prédios e construções. Muitos dos condomínios fechados possuem piscinas e academias de ginástica. Alguns contam até com clínicas e escolas particulares. Na região, aqueles que podem pagar vivem com certo luxo. No entanto, basta se dirigir às áreas habitadas pela massa de egípcios com poucas condições financeiras e o contraste fica evidente. Houve pouco investimento em moradia para os menos favorecidos em uma época de intensa urbanização. Milhões de pessoas moram em conjuntos habitacionais antigos e superlotados, em favelas que crescem em ritmo acelerado. No início deste mês, no distrito de Duweika, uma área pobre na região leste do Cairo, uma parte de uma montanha despencou e destruiu dezenas de casas, matando mais de 100 pessoas. Diante do problema, o governo sofre pressão para oferecer moradias de melhor qualidade e mais acessíveis para a maioria da população. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.