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Chávez nos beneficia, diz vice-chanceler interina de Honduras

Por ENRIQUE ANDRÉS PRETEL
Atualização:

Em vez de considerar o presidente venezuelano, Hugo Chávez, como uma ameaça, o governo interino de Honduras vê no mandatário venezuelano um grande aliado para explicar ao mundo por que deu um golpe de Estado no empobrecido país da América Central. A destituição de Manuel Zelaya no dia 28 de junho gerou uma ampla condenação internacional e, apesar de ambas as partes terem acertado iniciar um diálogo com a mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, uma solução rápida para a pior crise política centro-americana em duas décadas parece distante. "Cada vez que Chávez fala de nós é um ganho. Que Chávez siga falando é o que mais queremos," afirmou na quinta-feira a vice-chanceler interina, Martha Alvarado, em uma entrevista à Reuters, e reiterou com veemência que, apesar das negociações, Zelaya não retomará o poder sob circunstância alguma. A Corte Suprema de Justiça, partidos políticos, associações empresariais e os militares asseguram que a saída de Zelaya era a única opção para salvar o país de um inesperado giro à esquerda, que ocorreu na metade de seu mandato, quando começou a formar uma aliança com o socialista Chávez. O presidente venezuelano assegurou no dia do golpe que qualquer governo que substituísse a Zelaya cairia e ameaçou o país com ações armadas na sexta-feira. Ele criticou duramente Arias e os Estados Unidos por sentarem à mesa de negociação com um "usurpador." O presidente foi deposto no dia em que iria realizar uma consulta popular sobre uma eventual reforma da Carta Magna, apesar de as mudanças terem sido proibidas por um juiz. Muitos creem que a modificação poderia abrir caminho para sua reeleição em um dos países mais conservadores da América Central. Alvarado admitiu que a ação de militares armados sequestrando e expulsando do país o presidente de pijama é complicada de se explicar, mas confia que pode convencer a comunidade internacional dos fundamentos legais que possuem as autoridades provisórias. "Não havia alternativa: ou Chávez tomava Honduras através de seus tentáculos ou os hondurenhos faziam o que tinham que fazer dentro da lei. Sempre soubemos que tínhamos de pagar. O custo foi discutido e faríamos quantas vezes fosse necessário," afirmou. Muitos acreditam que, ainda que o líder deposto tenha ido além de suas atribuições, como sustenta o governo interino, ele deveria ter sido entregue a um juiz e respeitado seu direito ao devido processo. O custo foi o isolamento internacional do país e crescentes sanções que poderiam colocar em xeque a pequena economia da nação exportadora de café e têxteis, que depende em grande escala das remessas e dos empréstimos de organismos multilaterais. "A comunidade internacional nos castiga hoje, mas a comunidade internacional não veio nos liberar de Chávez. Estamos pagando o preço que temos de pagar por cinco meses e não dez anos como os venezuelanos," concluiu Alvarado em uma sala do Palácio Presidencial. (Por Enrique Andrés Pretel)

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