Chávez questiona rei da Espanha sobre golpe de 2002 na Venezuela

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Por MÓNICA VARGAS
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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou no domingo o rei Juan Carlos, da Espanha, que na véspera o mandou calar a boca. Chávez também exigiu esclarecimentos sobre se o monarca sabia do golpe de Estado que afastou o presidente venezuelano do poder durante algumas horas em 2002. Em uma reação inusitada durante a sessão de encerramento da 17a Cúpula Ibero-Americana, Juan Carlos perdeu a paciência com as interrupções de Chávez ao discurso do primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. Até que o rei gritou: "Por que você não se cala?". "Esse incômodo do rei, essa fúria de sua majestade surpreende a estas alturas. Surpreende em um homem tão maduro quanto ele, em um homem que se supõe sábio, não enviado de Deus, como antes se dizia", afirmou Chávez a jornalistas antes de partir do Chile. Em repetidas ocasiões durante a cúpula, o presidente esquerdista qualificou de "fascista" o ex-premiê espanhol José María Aznar, o que incomodou a delegação espanhola e provocou a insólita reação do rei, respaldada por alguns países da região, como Peru e Chile. "Agora eu me pergunto neste momento se aquele rei sabia do golpe contra mim em 2002. Senhor rei, me responda, o sr. sabia do golpe de Estado contra a Venezuela, contra o governo democrático e legítimo da Venezuela em 2002?", acrescentou Chávez. O presidente acusa os Estados Unidos e o governo Aznar de ter apoiado o golpe que o afastou do cargo em 2002. Na época, os embaixadores norte-americano e espanhol em Caracas assistiram à cerimônia de posse de uma efêmera junta de governo civil-militar. Chávez conversou por mais de uma hora com jornalistas, e foram frequentes as alusões à conquista espanhola da América e à imagem que os monarcas promoveram séculos atrás no continente. "Ontem (sábado) eu via as imagens do rei alterado. Bom, os reis também se alteram, então. Conclusão: são seres humanos, de carne e osso. Porque antes se dizia aos índios daqui que o rei era enviado de Deus." Horas mais tarde, o governo chileno manifestou apoio ao rei, a Zapatero e a Aznar. "Foi uma cena muito lamentável", disse o chanceler Alejandro Foxley à TV pública local. Na opinião dele, Juan Carlos "é uma grande figura da democracia espanhola", e seu país é "um aliado estratégico" do Chile. Na Espanha, a maioria dos partidos políticos e dos meios de comunicação respaldaram a intervenção do rei, embora houvesse quem considerasse a manifestação incompatível com o papel de moderação e representação institucional do monarca. O Partido Socialista Operário Espanhol (governo) disse que a reação de Juan Carlos foi "impecável". Já a Esquerda Unida considerou "excessiva". Apesar do atrito, Chávez disse esperar que o incidente não afete os laços entre os dois países, mas pediu aos espanhóis que esqueçam a "época da colônia". "Mudou o mundo, eles devem entender. Agora, acho que isso, assim espero, não afetará as relações. Se afetar a culpa não é minha. Eu não me referi em momento algum ao governo da Espanha, só fiz uma reflexão sobre um ex-premiê espanhol que apoiou um golpe na Venezuela." (Com colaboração de Enrique Andrés Pretel em Caracas)

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