Chefe da OEA diz a Honduras para aceitar Zelaya de volta

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Por ENRIQUE ANDRES PRETEL
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A Organização dos Estados Americanos (OEA) tentou na sexta-feira convencer Honduras a reinstaurar o presidente afastado Manuel Zelaya, sob pena de sofrer uma sanção diplomática do hemisfério ocidental. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, chegou a Honduras para tentar reverter o golpe militar do último fim de semana que afastou o esquerdista Zelaya do poder e o enviou ao exílio. Insulza aterrissou numa base aérea hondurenha em um avião da Força Aérea Brasileira. Com o apoio do presidente norte-americano, Barack Obama, e de vários líderes latino-americanos, a OEA deu aos governantes interinos de Honduras o prazo de até sábado para chamar Zelaya de volta, sob pena de o país ser suspenso do grupo, que tem 34 membros. Insulza iria reunir-se com políticos, líderes da Igreja e figuras judiciárias de Honduras, mas evitaria um encontro com Roberto Micheletti, nomeado pelo Congresso para ocupar a presidência interinamente, já que a OEA quer evitar legitimar seu governo. Insulza se mostrou cauteloso, dizendo a jornalistas na noite de quinta-feira que duvida que conseguirá desarmar a crise com uma só visita. "Não posso afirmar que eu esteja confiante", disse ele a jornalistas na Guiana. "Farei tudo o que eu poder, mas acho que é muito difícil reverter uma situação em dois dias." Milhares de hondurenhos agitando as bandeiras nacionais azuis e brancas promoveram na sexta uma barulhenta manifestação contra Zelaya. Até agora a nova administração hondurenha vem rejeitando qualquer tentativa de trazer Zelaya de volta. O presidente foi derrubado num golpe de Estado, dentro de uma disputa sobre os limites dos mandatos presidenciais. A crise política resultante já se tornou uma das maiores da América Central desde a invasão do Panamá pelos EUA, em 1989. O golpe até agora sem sangue no país pobre de 7 milhões de habitantes, exportador de café e têxteis, criou um teste para a diplomacia regional e para o compromisso dos EUA com a defesa da democracia na América Latina. Micheletti diz que não quer que Zelaya retorne e na sexta-feira pediu a Insulza, ex-chanceler chileno, que seja "justo e entenda que o povo (hondurenho) deseja paz, democracia e tranquilidade". Durante a noite, uma granada explodiu diante de um restaurante de fast food perto do aeroporto de Tegucigalpa, mas não houve feridos e não ficou claro se o incidente teve relação com a turbulência política, disse a polícia. Micheletti diz que concordaria em adiantar a eleição presidencial marcada para 29 de novembro, para ajudar a resolver a crise. Organismos e governos ocidentais, desde Washington e Bruxelas até os aliados de esquerda de Zelaya, condenaram sua derrubada e exigiram que ele seja reinstaurado no poder. Seu mandato termina no início de 2010. Os EUA criticaram o golpe e vão decidir na próxima semana se cortam a assistência econômica a Honduras, um dos países mais pobres das Américas, mas a administração Obama vem deixando a OEA assumir a liderança, nas tentativas de solucionar a crise. A OEA, que representa a maioria dos países da América, incluindo os EUA, é uma organização em grande medida simbólica, que promove a democracia mas possui poderes limitados. O Exército afastou Zelaya no domingo passado, acusando-o de tentar ampliar os poderes presidenciais e de ser um fantoche do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

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