China diz ter despejado 15 mil por causa de Olimpíadas

Governo divulga número oficial; ONGs falam em um milhão de pessoas 'removidas'.

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Por Marina Wentzel
Atualização:

O governo chinês revelou que 14,901 pessoas foram despejadas de suas casas por causa das obras dos Jogos Olímpicos de Pequim. O despejo de moradores relacionado às Olimpíadas é um assunto delicado e até agora era segredo o número total de cidadãos afetados pelo evento - e o anúncio do governo sobre o assunto foi visto como um esforço de demonstrar transparência à imprensa internacional. Diversas organizações internacionais denunciaram ter havido abuso por parte do governo e acusaram as autoridades de mascarar o assunto para não prejudicar a imagem dos jogos. Algumas organizações estimam em um milhão o número de pessoas que foram removidas de suaa casas por causa das Olimpíadas. No anúncio, as autoridades reforçaram que todos os moradores estão satisfeitos com a mudança, pois receberam boas compensações e hoje moram entre o terceiro e o quarto anel da cidade, em áreas onde o metro quadrado custa mais de US$830 (R$1.440). "Todos assinaram o acordo de despejo voluntariamente e ninguém foi expulso de suas casas" disse à imprensa estatal Zhang Jiaming, vice-diretor do Comitê de Construção da Prefeitura de Pequim. Números não oficiais "A prioridade foi garantir que aqueles removidos continuassem tendo acesso a moradia", ressaltou ele. Segundo os dados oficiais, cerca de seis mil famílias foram removidas para dar espaço a prédios que abrigarão competições do evento. A maior parte dos despejos ocorreu nas áreas de Wabian e Wali. O número divulgado pelo governo é bem inferior às estimativas de organizações independentes. Segundo a ONG com sede em Genebra Centre on Housing Rights and Evictions (COHRE), mais de um milhão de pessoas teriam sofrido com as remoções por causa das obras para as Olimpíadas. "A prefeitura de Pequim e o Comitê Nacional de Organização dos Jogos violaram o direito de mais de 1,25 milhão de residentes de Pequim na busca de incessante crescimento econômico e hospedando atrações internacionais como os Jogos Olímpicos", diz um comunicado da organização divulgado há dois meses. O cálculo da COHRE inclui famílias desalojadas por causa de obras de revitalização urbana e por construções indiretamente associadas aos jogos, fatores que a soma oficial desconsidera. Direitos Humanos Em dezembro, a coordenadora de campanhas na Ásia da ONG Anistia Internacional, Catherine Baber, disse à BBC Brasil que a organização estava investigando a violação de direitos humanos de famílias que se opuseram ao despejo e acabaram sendo expulsas a força. Baber contou que em pelo menos um caso uma família foi presa por ter protestado e estava sofrendo maus tratos na detenção. "Houve casos em que aqueles que enfrentaram despejos forçados acabaram parando na prisão. Em particular, há uma família em que os indivíduos foram severamente maltratados", afirmou Baber. "Nós pedimos ao Comitê Olímpico Internacional que pegue esses incidentes e realmente peça que as autoridades não cometam mais esse tipo de violação" reforçou a ativista. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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