PUBLICIDADE

Cientistas e ex-ministros pedem Rio+20 mais verde

Para grupo liderado por Goldemberg e Ricupero, falta meio ambiente na agenda; eles pedem resolução mais incisiva

Por Giovana Girardi
Atualização:

Insatisfeitos com a agenda da Rio+20, pesquisadores e ex-ministros do Meio Ambiente estão elaborando um texto com críticas e sugestões ao governo a fim de incentivá-lo a trabalhar por um documento final que traga propostas mais efetivas para a obtenção da tão falada economia verde. Os líderes do grupo têm conhecimento de causa para falar sobre o que foi a Rio 92 - e, em comparação a ela, quais são as perspectivas para a Rio+20. José Goldemberg era o secretário de Meio Ambiente (ainda não havia o ministério) em 92; e o ex-embaixador Rubens Ricupero, um dos principais negociadores da conferência de 20 anos atrás. "O problema é que a Rio+20 é uma conferência sem proposições", diz Goldemberg. Ele afirma que no "draft zero" - o rascunho do que deve ser o documento final -, de 128 parágrafos, 120 "são simplesmente exortações aos governos a fazer isso ou aquilo". No restante, quatro deles se referem à reformulação ou não do Pnuma (o órgão das Nações Unidas para o ambiente) e "muito pouco de fato propõe ações novas ou aprofundamento das ações já definidas". A preocupação não é só dos brasileiros. Em fevereiro, um grupo internacional de pesquisadores laureados com o "Blue Planet Prize", uma espécie de Nobel das pesquisas ambientais, elaborou um documento em Londres criticando a falta de menções às questões climáticas na Rio+20. Segundo Goldemberg, o único brasileiro desta turma, os cientistas lamentaram o fato de os "preparativos da conferência não reconhecerem a gravidade e urgência das mudanças climáticas". Ele diz que entre eles já nem se considera mais o plano de tentar manter a elevação da temperatura em no máximo 2°C até o final do século. "Os cientistas já desistiram e consideram que vai subir de 3°C a 5°C."

Para eles, e também para o grupo brasileiro, um dos problemas está no fato de que a conferência não é de ambiente, mas de desenvolvimento sustentável, seguindo o tripé economia verde, inclusão social e ambiente. " O Itamaraty e o governo brasileiro tomaram a posição de falar que a Rio+20 não é uma conferência sobre o clima, é sobre economia verde inclusiva. Acabou descaracterizando a conferência. Não é que os cientistas estão preocupados com o clima, mas para o tipo de civilização que estamos marchando", afirma Goldemberg, pesquisador da USP e hoje presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP. "O problema é achar que esses três aspectos são iguais em termos de essencialidade. Não são. Se a questão ambiental não for encaminhada de uma maneira satisfatória, se o clima aquecer demais, aí não vai ter nem social nem econômico, porque isso vai afetar de tal maneira a vida na Terra que todo o resto vai entrar em colapso", complementa Ricupero, atualmente diretor da Faculdade de Economia da FAAP. Segundo o diplomata, o texto que está sendo elaborado conta com duas partes. A primeira é sobre a conferência, onde eles propõem que a agenda se concentre mais no ambiente e não se ignore a questão climática. A segunda é dirigida ao governo.Baixo carbono. Mesmo que o discurso oficial fique em torno da economia verde, a percepção de Ricupero e companhia é de que essa questão está mal elaborada. "Achamos que embora o governo esteja fazendo esforços para reduzir as emissões com a diminuição do desmatamento, não está fazendo praticamente nada na área de políticas para a economia verde. Na maioria dos países, as duas coisas estão ligadas. Mas aqui não. Ainda não há, por exemplo, um incentivo para uma migração para uma energia de baixo carbono." É justamente nesse sentido que o documento vai sugerir que o Brasil atue. Agora no final de março ocorre em Nova York mais uma conferência preparatória da Rio+20 para discutir o documento. A expectativa é que se avance para algo mais concreto. "Acreditamos que o documento final deveria trazer recomendações muito fortes para que a conferência do clima ande mais depressa. Há alguns dispositivos no rascunho zero que propõem, por exemplo, que a fração de energias renováveis na matriz mundial dobre até 2030. A conferência poderia estabelecer imediatamente um mecanismo para isso ocorrer", afirma Goldemberg, que defende que a questão energética esteja no foco da busca pela economia verde. "Sobretudo achamos que a conferência deve resultar em um compromisso dos países para cada um elaborar metas de transição de economia de baixo carbono", diz Ricupero. "Essa preocupação deve nascer na Presidência e deve permear todos os ministérios."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.