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Cirurgia cardíaca é melhor no caso de diabéticos

Por Clarissa Thomé
Atualização:

Técnicas menos invasivas, que proporcionam tempo menor de internação e recuperação mais rápida, nem sempre são a melhor opção de tratamento para problemas cardíacos. Estudo com 1,9 mil diabéticos portadores de doença coronariana em estágio avançado mostra que a cirurgia para implante de pontes, como safena e mamária, são mais indicadas para esses pacientes que a angioplastia, em que as artérias são desobstruídas com a instalação de stents (pequenas próteses metálicas, que expandem as paredes dos vasos sanguíneos).A pesquisa, realizada em 140 hospitais, foi publicada nesta segunda-feira no New England Journal of Medicine e apresentada no congresso da American Heart Association, nos Estados Unidos. "É uma quebra de paradigma. A medicina avança cada vez mais para evitar o sofrimento por intervenção cirúrgica. Operava-se o estômago por úlcera, hoje toma-se remédio. Também já não se opera amígdala. Mas, para o paciente cardíaco diabético, a cirurgia convencional se mostrou a mais indicada", afirmou o cardiologista Whady Hueb, coordenador da equipe de pesquisadores no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, instituição que incluiu o maior número de pacientes no estudo (200), seguido pelo Mount Sinai, de Nova York, com 70.O estudo Avaliação de Revascularização Futura em Pacientes com Diabete (Freedom, na sigla em inglês) foi coordenado pelos pesquisadores Michael Farkouh e Valentin Fuster, da Escola de Medicina Mount Sinai, de Nova York. Eles levaram em conta o fato de que, só nos Estados Unidos, 25% das 700 mil ocorrências anuais de revascularização de múltiplas artérias envolviam pacientes diabéticos. Mesmo assim, não havia dados científicos que abordassem a melhor tática para tratá-los.Para o estudo, foram selecionados 3.309, dos quais 1,9 mil aceitaram participar da pesquisa. A idade média era de 63 anos: 71% do sexo masculino, 40% com colesterol elevado e 83% com obstrução em múltiplas artérias, o que caracteriza o estágio mais avançado da doença coronariana. De forma aleatória, foram divididos em dois grupos, os que receberam stents e os que passaram pela cirurgia convencional.Eles foram acompanhados por cinco anos: aqueles submetidos à cirurgia morreram menos por causas diversas (11% contra 16,3% no grupo que recebeu stent) ou por problemas cardíacos (7% contra 11%). Eles tiveram menos enfarte no decorrer da evolução da doença (6% contra 14%) e necessitaram de um número menor de novas intervenções, sejam elas cirúrgicas ou por angioplastia (4,8% contra 12,5%).Os pacientes que passaram por angioplastia, no entanto, tiveram menos derrames. "A ideia é que, quanto menos se intervém numa pessoa, melhor. A angioplastia é um procedimento de meia hora e internação de dois dias; já na cirurgia, abre-se o paciente de ponta a ponta, é preciso deixá-lo internado por dez dias. Mas, para o diabético, o resultado da cirurgia foi de longe melhor que a angioplastia", ressalta Hueb.Os pacientes ainda serão reavaliados sete anos depois de realizado o procedimento. O cardiologista Roberto Kalil, diretor da Divisão de Cardiologia Clínica do Incor, ressalta, no entanto, que a decisão final sobre o tipo de intervenção tem de ser avaliada caso a caso. É uma decisão entre médico e paciente."Medicina não é matemática e nenhum estudo científico é lei. Esse estudo é interessante e serve de alerta. Mas se você tem uma paciente de 30 anos, saudável, diabética, com uma artéria obstruída, não vai abrir o peito dela. Coloca-se o stent", afirma. O estudo Freedom custou US$ 400 milhões e foi patrocinado pelo NIH (a agência de saúde norte-americana) e por fabricantes de stent. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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