Clérigo que aconselhou major cativa radicais

Nascido nos EUA, Anwar al-Awlaki usa internet como arma de doutrinação e vira guru de fundamentalistas americanos, ingleses e canadenses

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Por Scott Shane
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Em uma dezena de casos recentes de terrorismo nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá, os investigadores descobriram que os suspeitos tinham algo em comum: uma devoção pela mensagem de Anwar al-Awlaki, um eloquente clérigo muçulmano que transformou a internet numa ferramenta de doutrinação extremista. Awlaki, de 38 anos, filho de um ex-ministro da Agricultura e presidente de universidade no Iêmen, nunca foi acusado de plantar explosivos pessoalmente. Mas especialistas acreditam que seu endosso persuasivo da violência como um dever religioso, em inglês coloquial com sotaque americano, ajudou a impelir uma série de muçulmanos ocidentais ao terrorismo. O major Nidal Malik Hasan, o psiquiatra do Exército dos EUA acusado de matar 13 pessoas em Fort Hood, Texas, em 5 de novembro, é apenas o mais recente suspeito acusado de perpetrar ou tramar atos de violência associáveis ao clérigo. Em 2006, por exemplo, um grupo de muçulmanos canadenses ouviu sermões de Awlaki num laptop meses antes de ser acusado de tramar ataques em Ottawa que incluiriam a invasão do Parlamento e a decapitação do premiê canadense. Em 2007, um dos seis homens posteriormente condenados por tramar o ataque a Fort Dix, em New Jersey, foi apanhado numa gravação de vigilância empolgando-se com gravações em áudio de Awlaki. No ano passado, Awlaki trocou mensagens na Web com a Al Shabaab, um grupo islâmico somali que atraiu recrutas entre jovens somali-americanos. A Al Shabaab elogiava o clérigo como "um dos pouquíssimos eruditos" que "defendem a honra dos mujahedin". "Alwaki condensa a filosofia da Al-Qaeda em tratados bem escritos, digeríveis", disse Evan Kohlmann, pesquisador do contraterrorismo. "Pode não dizer como construir uma bomba, mas diz quem matar, e por quê, e salienta a urgência da missão." Há pelo menos uma década que agentes de contraterrorismo estão atentos a Awlaki, um cidadão americano hoje vivendo no Iêmen. Sabe-se que ele manteve contatos com três dos sequestradores do 11 de Setembro, em mesquitas na Califórnia e na Virgínia. Em anos recentes, as preocupações se centraram na influência de Awlaki via seu website, sua página no Facebook e folhetos e CDs contendo sua mensagem, incluindo um texto chamado "44 maneiras de apoiar a Jihad". O site de Awlaki, www.anwar-alawki.com, saiu do ar depois que ele foi associado ao major Hasan. A questão do que fazer com propagandistas do terror como Awlaki é complexa. Seus escritos, embora encorajem a violência, são protegidos pela garantia de liberdade de expressão da Constituição dos EUA. Ademais, esses sites podem ser uma valiosa ferramenta do contraterrorismo para detectar aqueles que, como o major Hasan, visitam um site, postam comentários ou e-mails para seus criadores.

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