EntrevistaJavier Ponce: ministro da Defesa do Equador
O clima desta reunião da Unasul é mais tenso que o da anterior?
Sim, está realmente mais tenso. Os problemas entre Colômbia e Venezuela estão mais agudos, além da tensão entre Chile e Peru, que é um caso ainda não resolvido.
O acordo militar entre Washington e Bogotá ainda interfere?
É justamente a origem da tensão entre Colômbia e Venezuela. Trata-se de um problema que ainda está para ser revolvido com a adoção de medidas de confiança mútua.
Mesmo com toda a pressão, a Colômbia assinou o acordo com os EUA. O que a Unasul ainda pode fazer em relação a isso?
Vamos insistir para que todo membro da Unasul que faça um acordo militar com um país de fora da região dê garantias de que isso não afetará a soberania dos Estados vizinhos.
A Colômbia acusa a Unasul de ser leniente com as declarações belicistas da Venezuela.
Nós já dissemos ao chanceler colombiano que o fato de estarmos realizando a reunião da Unasul é uma prova de que não estamos ignorando o tema. Mas está claro que a organização ainda não tem todos os instrumentos necessários para agir nestes casos.
O documento final da reunião anterior foi ininteligível. O que o sr. pensa desse documento?
Em que sentido foi enigmático?
Ele não tem resoluções concretas, aponta intenções genéricas.
Discordo. Acho que ele era bem claro sobre a solicitação de esclarecimentos sobre a presença americana na Colômbia, além de pedir a adoção de medidas de confiança mútua.
Colômbia e Peru ficaram isolados de lá para cá?
A situação da Colômbia na última reunião foi muito difícil porque os 11 países pediam medidas de confiança mútua, mas a Colômbia impediu que se adotasse esse mecanismo. Já o Peru é um caso diferente.
O Peru propõe que a Unasul tenha sua força de paz. Isso é possível?
É uma proposta que vale a pena ser analisada seriamente.
Seria uma força parecida com a que existe hoje no Haiti?
É uma ideia semelhante.
O fato de a região ter vivido tantas ditaduras militares ainda dificulta o diálogo na área de defesa?
A região tem uma história forte de regimes militares e ditaduras. Ainda estamos amadurecendo o processo de redemocratização. Os temas militares e de defesa são, evidentemente, os mais delicados.
O caso de Honduras seria um exemplo disso? E como o sr. vê o papel dos EUA nesta crise?
É preciso que haja coerência entre os pronunciamentos do presidente americano, Barack Obama, e do Executivo. A questão das bases na Colômbia e da reabilitação da Quarta Frota são dois exemplos de que a política americana não mudou muito. O golpismo acabou se impondo finalmente e os EUA têm responsabilidade nisso.
Isso opõe EUA e América do Sul?
Sim, porque aqui houve uma condenação unânime ao golpe.
E será discutido na Unasul?
É possível, mesmo não estando na agenda oficial.