Clima irregular frustra safra de alta tecnologia do Paraná

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Por Fabiola Gomes
Atualização:

Depois de investir fortemente em adubação para reforçar o rendimento e aumentar as safras de soja e milho, o produtor do centro-sul e sudoeste paranaense agora vê parte de seus esforços minados por uma estiagem seguida por um período de chuvas irregulares que reduzem o potencial de produção e a rentabilidade nesta temporada. "É uma safra em que se investiu bastante (em tecnologia), mais do que no ano anterior, o que a gente não esperava era esta seca. Vamos ter uma safra irregular", disse Alfred Milla, aos integrantes da equipe 4 do Rally da Safra que avaliaram lavouras próximas da área em que ele cultiva soja e milho, no município de Reserva de Iguaçu, na região centro-sul do Estado. Segundo ele, os investimentos foram feitos especialmente em variedades mais produtivas, que acabam exigindo mais do solo, e por isso as compras de fertilizantes também foram reforçadas. "Ficamos quase sem chuva na fazenda, enquanto o meu vizinho já teve mais chuvas", comentou, citando a irregularidade das precipitações provocada pelo fenômeno climático La Niña. Milla contou que sua propriedade ficou praticamente 31 dias sem chuva, tendo registrado desde 24 de janeiro apenas 3 milímetros. Enquanto isso, a fazenda vizinha separada apenas por um rio chegou a receber 12 milímetros em precipitações que vieram em momento adequado para favorecer a lavoura. Em sua estimativa inicial, Milla estima perdas entre 10 e 15 por cento para a soja. "Esperávamos com este investimento ter 60/62 sacas por hectare, mas agora tem muita vagem amarelada no campo... deve ficar em 52/53 sacas. A chuva veio tarde, e este número ainda pode cair mais", afirmou. DECEPÇÃO Dados da indústria de fertilizantes mostram que o Brasil consumiu níveis recordes de fertilizantes no ano passado, superando 28 milhões de toneladas, em fase de preparação para a atual temporada 2011/12. A supervisora técnica da indústria de fertilizantes Heringer, Letícia Caloy, que integra a equipe 4 do Rally da Safra, acompanhada pela Reuters, ressaltou que a expectativa em relação à atual safra de grãos no Paraná era realmente muito grande. "Houve até antecipação de entrega, o que eles (produtores) não esperavam era se deparar com esses problemas climáticos", afirmou Letícia, acrescentando que em algumas regiões, como no oeste do Paraná, as áreas agrícolas chegaram a ficar até 60 dias sem chuvas. Letícia observou que a antecipação aconteceu não apenas na região oeste, a mais castigada pela seca, mas em todo o Estado do Paraná, um fenômeno muito mais comum em Mato Grosso, onde os produtores compram o insumo mais cedo para garantir oferta. Segundo ela, o resultado deste cenário, em que se depara com perda de produtividade e rentabilidade, é que o produtor paranaense entrará a próxima safra com muito mais cautela. ROTAS No trajeto realizado na quarta-feira, as equipes da expedição técnica encontraram desde lavouras muito afetadas pela estiagem, apresentando perdas expressivas de rendimento, como outras em boas condições. "Vimos de tudo hoje, áreas de pequena escala, com muito baixa produtividade até outras com perdas menores na região próxima à Guarapuava. As lavouras mais tardias de soja são as que menos apresentam problemas... elas estão conseguindo se recuperar mais que as outras (plantadas mais cedo)", disse o analista Valmir Assarice, da Agroconsult. As chuvas retornaram ao sudoeste do Estado nesta última semana, mas ainda com um padrão irregular, segundo o consultor técnico Vilmar Bueno dos Santos, da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio). Ele estima a quebra do milho na região entre 30 e 40 por cento, porque a seca atingiu as lavouras justamente na fase crítica de desenvolvimento dos grãos, mas pondera que no caso da soja ainda é preciso acompanhar o desenvolvimento das plantas. INSUMOS O clima irregular afetou também a estratégia de utilização de agroquímicos nesta temporada, uma vez que a estiagem provocou o surgimento de mais pragas, como insetos e lagartas, mas reduziu o surgimento de doenças fúngicas, como a ferrugem, obrigando os produtores a incrementarem o uso de inseticidas em detrimento dos fungicidas. "A demanda por fungicidas em região que teve estiagem é menor, o que aumenta um pouco mais é a procura por inseticidas", explicou o representante técnico de vendas da indústria de defensivos UPL, Henrique Annes Stedile, que também integra a equipe 4 do Rally da Safra. Ele acrescentou que esta diferença não é proporcional, uma vez que a demanda por fungicidas costuma ser maior, mas nota-se um incremento na demanda por inseticidas. A UPL, maior indústria de defensivos agrícolas da Índia, adquiriu 51 por cento de participação da DVA do Brasil no ano passado e olha o mercado brasileiro com grande interesse, pela perspectiva de ampliar sua fatia neste segmento. O Rally da Safra, iniciado em meados de janeiro, prosseguirá até o dia 22 de março, visitando as principais áreas de produção agrícola do país em percurso de mais de 60 mil km. Após a expedição, a Agroconsult, organizadora do Rally, deve apresentar nova estimativa de safra.

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