COLUNA-A coisa não está fácil para Dilma

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Por ALEXANDRE CAVERNI
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(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto) A presidente Dilma Rousseff (PT) procurou mostrar otimismo na noite de domingo com uma tirada no mínimo questionável: comemorou o que chamou de sétima vitória seguida de seu partido, o PT, nas eleições presidenciais. Para isso considerou os dois turnos realizados em 2002, 2006, 2010 mais a votação de agora. Comemorar vitória no primeiro turno é mais ou menos o mesmo que o Brasil comemorar ser "campeão" do grupo na primeira fase em Copas do Mundo. O resultado final nos últimos três Mundiais não é lá muito animador. Mas Dilma precisava mesmo mostrar otimismo. Depois de passar o último mês e meio mirando em Marina Silva (PSB) por considerá-la sua virtual adversário no segundo turno, a presidente viu Aécio Neves (PSDB) dar uma arrancada impressionante nos últimos dias para ultrapassar a candidata do PSB e chegar embaladíssimo para as três semanas de campanha da fase final das eleições. O surpreendente desempenho do tucano nas urnas domingo é o prenúncio das dificuldades que Dilma terá que enfrentar nos próximos dias para ser reeleita e garantir a continuidade do PT no mais alto cargo do país por 16 anos. O primeiro problema para Dilma é justamente o embalo de Aécio. Se é verdade que os candidatos costumam manter os votos conquistados no primeiro turno --desde a redemocratização só Geraldo Alckmin (PSDB) encolheu na segunda votação-- também é verdade que o impulso conta muito nessas horas. Dilma teve um desempenho abaixo do esperado, com 41,59 por cento dos votos válidos, reforçando a ideia de que seu teto é baixo, e para vencer no segundo turno vai ter que correr atrás de mais votos do que ela mesma, em 2010, e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002 e 2006. Já Aécio alcançou no domingo, com 33,6 por cento dos votos válidos, um patamar que não chegou nem perto durante a campanha, e sua trajetória é ascendente. O segundo problema para Dilma são os apoios. Marina, que com 21,3 por cento dos votos válidos ficou em terceiro lugar, indicou na noite de domingo que pode apoiar Aécio, ao contrário de 2010, quando ficou neutra nessa etapa. É fato que a transferência de votos no Brasil não é automática nem costuma ser abundante, mas se isso se confirmar, será um passo decisivo para a vitória do tucano. Ainda que possa não ser fácil o PSB fechar em torno do apoio formal ao tucano, devido a uma ala do partido mais ligada ao PT, já é certo que o PPS vai apoiar o tucano, o que deve ser seguido pelo PSC, do pastor Everaldo, e outros pequenos partidos. Mesmo não representando muitos votos, esses apoios são bem importantes do ponto de vista psicológico e importante munição para a propaganda tucana na TV, para mostrar que mais partidos estão se juntando ao seu projeto e solidificar o candidato como a "encarnação da mudança". A própria proganda no rádio e na TV pode ser outra dificuldade para a campanha petista. Se no primeiro turno Dilma tinha muito mais tempo que Aécio e Marina, e por isso podia atacar sem se preocupar tanto em ser atacada, e se durante esse período o tucano teve que concentrar boa parte de sua artilharia contra a candidata do PSB, agora a situação é outra. O tempo será igual para os dois. A presidente também não terá vida fácil nos debates de TV. Antes, com sete candidatos participando, os confrontos entre eles foram poucos. Agora o embate será direto, e Aécio tem melhor presença na TV e uma maior capacidade de articulação para o tempo bastante limitado que as regras impõem às respostas. Isso ficou claro na quinta-feira passada na Rede Globo. Outro ponto bastante preocupante para a presidente é o Estado de São Paulo, que representa mais de um quinto do eleitorado do país. Na pesquisa de intenções de voto do Ibope sobre São Paulo divulgada na última terça-feira, Dilma e Marina lideravam com 29 por cento e Aécio tinha 22 por cento. No domingo, o tucano teve 44,2 por cento, a presidente somou 25,8 por cento e a candidata do PSB outros 25,1 por cento. Num Estado onde o PSDB governa desde 1994, onde seu candidato à reeleição venceu no primeiro turno, onde o antipetismo é bastante marcante e onde o PT teve um desempenho pífio tanto para o governo estadual como na votação para o Congresso, Dilma terá que se desdobrar para Aécio não ampliar muito sua vantagem. Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, pode ser um problema maior ainda. Embora lá o candidato do PT tenha sido eleito no primeiro turno e Dilma tenha obtido mais votos que Aécio, essa situação tem grandes chances de mudar agora. Nos últimos dias Aécio concentrou seus esforços na terra natal e conseguiu avançar, ainda que não tanto quanto em São Paulo. Na mesma pesquisa Ibope, em Minas Dilma tinha 36 por cento das intenções de voto, o tucano tinha 31 por cento e Marina 17 por cento. Nas urnas, os votos válidos foram, respectivamente, 43,5 por cento, 39,8 por cento e 14 por cento. Reforçando ainda mais sua campanha lá, existe uma boa chance dele ultrapassar a presidente. Ainda mais se seguir batendo na tecla de que o Estado precisa eleger um presidente mineiro --embora Dilma seja nascida e tenha passado a infância e adolecência lá, se radicou depois disso no Rio Grande do Sul, Estado com o qual é mais identificada. Mas estas e outras dificuldades de Dilma significam que a eleição está decidida a favor de Aécio? Não é bem assim. O tucano tem seus próprios desafios, talvez o maior de todos seja sua pequena penetração no eleitorado de baixa renda, que afinal é a maioria da população. Uma eleição que caminhava modorrenta até a morte de Eduardo Campos, que passou por um turbilhão com a entrada de Marina no lugar do então candidato do PSB e que assistiu a uma virada espetacular nos últimos dias, promete fortes emoções para as próximas semanas. *Esta coluna foi publicada mais cedo no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.

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