Com frio e compromissos, moradores de Soweto 'esnobam' a seleção

Após euforia inicial com treino do Brasil em bairro histórico, moradores ficaram pouco tempo no estádio.

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Por Daniel Gallas
Atualização:

Era para ser um dia histórico da seleção brasileira em Soweto, o bairro de Johanesburgo conhecido mundialmente como centro de resistência ao regime segregacionista do apartheid na África do Sul. Nesta quinta-feira, pela primeira vez na história, a seleção pentacampeã treinou no bairro pobre e predominantemente de negros de Johanesburgo. O bairro também é considerado o "coração" do futebol sul-africano, já que é um dos lugares onde o esporte é mais popular no país. No entanto, o treino da seleção foi acompanhado por poucos torcedores. O estádio, com capacidade para oito mil pessoas, nunca chegou a um terço da lotação. Duas horas depois do começo do treino, boa parte dos torcedores já havia deixado o estádio. Moradores de Soweto deram à BBC Brasil motivos diferentes para a ausência de público. Alguns disseram que já tinham outros compromissos e só passaram para olhar rapidamente o trabalho de jogadores como Kaká, Robinho e Luís Fabiano. Os moradores só ficaram sabendo que o Brasil treinaria no bairro na manhã desta quinta-feira. Outros reclamaram do frio que começou a fazer no fim da tarde. Empolgação O treino do Brasil desta quinta-feira foi marcado em Soweto pela Fifa e não pela CBF. A Fifa exige que cada seleção realize ao menos um treino aberto em estádio na África do Sul. No começo da manhã, houve euforia em Soweto quando uma rádio local deu a notícia de que a seleção treinaria à tarde no bairro. "Eu estava ouvindo rádio enquanto fazia faxina e não acreditei na notícia", disse à BBC Brasil, a dona-de-casa Johannah Modisakeng, de 35 anos. Os moradores do bairro disseram à BBC Brasil que houve correria para os pontos de distribuição dos ingressos para o treino. Alguns ficaram mais de cinco horas na fila para conseguir os ingressos, que eram gratuitos. Às 15h30 da tarde (10h30), quando o ônibus da seleção chegou ao estádio Dobsonville, houve correria de vários jovens curiosos para ver a seleção. Ao redor do estádio uma multidão, na maioria formada por crianças e adolescentes de Soweto, se formou para assistir ao treino, que começou com um aquecimento dos torcedores. "É muito bom ver o Kaká e o Robinho treinarem. Pena que não veio o Ronaldinho Gaúcho", disse à BBC Brasil o estudante Sechapa Lesiea, de 22 anos. Frio No entanto, uma hora depois do começo do treino, várias pessoas começaram a deixar o estádio e a curiosidade de ver a seleção parecia ter passado em Soweto. O estudante universitário Sega Mashiloane, que assistiu parte do treino, disse que muitos amigos seus ficaram sabendo muito em cima da hora sobre a ida da seleção a Soweto e que não conseguiram mudar seus planos. O próprio estudante deixou o estádio antes do fim do treino porque já tinha outro compromisso. Já Peter Matsapola, estudante que matou aula na universidade para ver o treino da seleção, deu outro motivo para ir embora cedo. "Estou com frio. Está muito frio hoje. Acho que é por isso que tem tanta gente indo embora", disse Peter. Com o estádio esvaziado, a seleção passou dos treinos físicos para um recreativo com bola. Soweto, bairro pobre com quase 2 milhões de habitantes no sul de Johanesburgo, é considerado um dos pontos-chave na campanha contra o regime que segregava negros e brancos na África do Sul, sendo palco de uma revolta de estudantes, em 1976. Personalidades sul-africanas conhecidas internacionalmente - como Nelson Mandela, Desmond Tutu e Steven Biko - foram moradores de Soweto. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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