Economistas citados em reportagem do Estado já apostam em taxas de inflação na altura de 10% este ano e acima do limite em 2016. A pesquisa Focus, conduzida semanalmente pelo Banco Central (BC), vai nessa direção. A mediana das projeções subiu novamente e agora aponta uma alta de preços de 9,53% em 2015. Para o próximo ano a estimativa chegou a 5,94%, depois de nove semanas em alta.
A expectativa em relação ao ritmo de atividade continua muito ruim. Em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher 2,85%. Espera-se alguma reação no próximo ano, mas ainda com resultado negativo. A projeção passou de -0,60% para -0,20%, mas com inflação maior.
A recessão e o dólar em alta devem produzir, combinados, pelo menos um resultado positivo. O superávit comercial passará, segundo a Focus, de US$ 11 bilhões em 2015 para US$ 12 bilhões em 2016. Com desemprego elevado, juros altos e inflação ainda acelerada, os consumidores com certeza continuarão retraídos e isso afetará a demanda de importações.
Além disso, dificilmente aumentará a compra de máquinas importadas, porque a maior parte dos empresários continuará mais empenhada em sobreviver no dia a dia do que em reforçar a capacidade produtiva de suas companhias. Só mudarão se tiverem alguma razão para acreditar numa virada econômica, e isso dependerá essencialmente do governo, que continua incapaz de liderar um movimento de recuperação.
Depois da nova rendição às pressões do PMDB e às ordens do ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff parece ainda menos capaz de assumir essa liderança. Sem isso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dificilmente conseguirá manobrar para conduzir o ajuste no rumo necessário.
Enquanto a presidente encolhe em termos políticos e administrativos, crescem as dúvidas sobre o programa oficial de ajuste e as demandas por uma nova estratégia. Há demandas de dois tipos. Petistas e grupos ditos de esquerda propõem afrouxar as políticas e, essencialmente, repetir os erros dos últimos anos. Esses erros conduziram à crise atual e retomá-los será catastrófico. Do lado oposto, economistas de competência reconhecida põem em dúvida a eficácia da estratégia oficial e sugerem mudanças na composição do ajuste.
Segundo esses economistas, o amplo desarranjo fiscal neutraliza a política de combate à inflação baseada no aperto monetário. Em contrapartida, esse aperto, realizado por meio da elevação de juros, aumenta a dívida pública e dificulta o conserto das contas do governo. A solução proposta é manter o esforço de arrumação das finanças oficiais e mudar o combate à inflação. O BC abandonaria por algum tempo o regime de metas e ressuscitaria a banda cambial, fixando limites para a oscilação do dólar. O dólar poderia subir, mas de forma controlada, e o câmbio funcionaria como âncora da inflação.
Essa foi a experiência da primeira fase do Plano Real. Vários especialistas têm discutido essa possibilidade e a ideia foi exposta com clareza pela economista Monica de Bolle, numa entrevista publicada no Estado de domingo.
Mas o arranjo só poderá funcionar se for temporário e se o governo estiver preparado para seguir o roteiro certo. Neste momento, o Executivo se mostra pouco preparado para executar mesmo o mais simples programa com um mínimo de segurança. Discutir refinamentos estratégicos, nesta altura, é uma exibição de otimismo.