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Com racha entre EUA e Índia, Doha tem novo colapso

Por JONATHAN LYNN E DOUG PALMER
Atualização:

Terminou sem acordo na terça-feira a longa reunião da Organização Mundial de Comércio (OMC), em Genebra. O fracasso ocorreu principalmente pela falta de entendimento entre Estados Unidos e Índia a respeito de um mecanismo de proteção a pequenos agricultores. Ministros dos outros países manifestaram perplexidade com o fato de a reunião ministerial naufragar depois de nove dias por causa de uma questão técnica. "Alguém vindo de outro planeta não acreditaria que depois do progresso que foi feito não conseguimos concluir", disse o chanceler do Brasil, Celso Amorim. "Este é um fracasso muito doloroso e um verdadeiro revés para a economia global num momento em que realmente precisávamos de uma boa noticia", acrescentou a jornalistas, emocionado, o comissário (ministro) europeu do Comércio, Peter Mandelson, observando que os países em desenvolvimento se ressentirão mais. Mesmo sem ter impacto imediato sobre o comércio, o fracasso da rodada ministerial pode prejudicar a confiança dos investidores, alimentar o protecionismo, estimular mais acordos comerciais bilaterais e colocar em dúvida como o mundo pode agir coordenadamente em questões complexas como o aquecimento global e a crise alimentar. O resultado do encontro de Genebra significa que, sete anos depois de lançada, a chamada Rodada de Doha da liberalização comercial mundial deve ser arquivada durante anos --ou mesmo para sempre. Mas o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, prometeu "não jogar a toalha" e disse que os ministros esperam que ele retome as negociações em breve. Lamy afirmou que o acordo representaria para o mundo uma economia de 130 bilhões de dólares por ano em tarifas. Foi Lamy quem convocou 35 ministros de países-chave da OMC para se reunirem em Genebra na busca da conclusão da rodada. Após oito dias de encontro, havia consenso sobre 80 a 85 por cento da proposta nas questões agrícolas e industriais, segundo ele. PÁ DE CAL Mas o processo acabou sucumbindo às diferenças entre países ricos e pobres e entre exportadores e importadores. A pá de cal foi o chamado "mecanismo especial de salvaguardas", discutido na segunda e terça-feira, que permitia a um país elevar tarifas agrícolas para proteger seus produtores de surtos de importações ou queda de preços. Países como Índia e Indonésia dizem que esse mecanismo é necessário para proteger milhões de pequenos produtores rurais da abertura dos mercados. Os EUA, por outro lado, temem com isso a perda de novos mercados para o seu agronegócio --que pelo acordo já teria de abrir mão de subsídios. Além disso, EUA e União Européia também discordavam das propostas de Índia e China para que suas indústrias tivessem um certo grau de proteção. A representante comercial dos EUA, Susan Schwab, disse que todas as ofertas feitas durante esses nove dias continuam válidas. "Para garantir que os avanços feitos nesta semana não se percam, os Estados Unidos vão manter nossas atuais ofertas, mas mantemos que elas ainda dependem de os outros apresentarem ofertas ambiciosas, que criem novo acesso a mercados. Até agora, essa ambição não é evidente." Mas ainda ninguém sabe se e quando o processo será retomado. Amorim acha que pode levar três ou quatro anos. Mandelson acredita que não há chance de resolver as principais questões num futuro visível. (Com reportagem adicional de Laura MacInnis, Robin Pomeroy e William Schomberg)

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