Comissão Européia descarta veto imediato a carne brasileira

Especialistas da UE concluem que escoceses e irlandeses não têm razão em pedido.

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Por Márcia Bizzotto
Atualização:

O comissário de Saúde da União Européia, Markus Kyprianou, afirmou nesta segunda-feira que não há motivos para embargar a importação de carne brasileira, como vêm pedindo associações de produtores da Irlanda e da Escócia. Em uma carta enviada nesta segunda-feira às associações e aos deputados europeus, Kyprianou contestou as conclusões da investigação independente realizada em maio passado pelas associações escocesa de criadores de gado, de Fazendeiros da Irlanda e Jornal de Fazendeiros Irlandeses, que acusam seus concorrentes brasileiros de não respeitar os padrões fitossanitários estabelecidos pela UE. Segundo o comissário, o relatório independente foi submetido à análise do Departamento de Alimentação e Veterinária da UE (FVO, na sigla em inglês), responsável pelo controle sanitário no bloco, em resposta a um pedido feito na semana passada pela comissária de Agricultura, Mariann Fischer Boel. A conclusão, divulgada em um documento de 26 páginas, foi de que "as afirmações (do relatório das associações) estão baseadas em interpretações incorretas das normas européias para importação de carne e cobrem dois Estados (Paraná e Mato Grosso do Sul) que estão proibidos de exportar para a UE". Os produtores europeus alegam que o gado brasileiro não é rastreado e, portanto, é impossível garantir que toda a carne exportada não proceda de zonas restringidas desde 2005 devido a um surto de febre aftosa. Eles também acusam os brasileiros de usar medicamentos e hormônios de crescimento que são proibidos na UE. "Nos últimos dois anos e meio realizamos sete missões fitossanitárias para avaliar a produção brasileira de carne, inclusive visitas surpresa a algumas fazendas. Não detectamos nada que justifique uma mudança na política européia em relação às importações do Brasil", defendeu Michael Gaynor, diretor do FVO, em um debate acalorado, também nesta terça-feira, com o Comitê de Agricultura do Parlamento Europeu e representantes de associações irlandesas e escocesa. "A situação ainda não é ideal, mas estamos muito satisfeitos com os progressos apresentados pelo Brasil. As deficiências que ainda devem ser resolvidas não comprometem a qualidade da carne que importamos", garantiu. As respostas de Gaynor não convenceram os deputados europeus, que criticaram duramente a Comissão Européia e aplaudiram os repetidos pedidos de John Cameron, presidente da Associação Escocesa de Criadores de Gado, para que a carne brasileira seja "imediatamente e totalmente embargada". "Um produtor europeu que utilizasse os mesmos métodos que são utilizados pelos brasileiros seria enviado à prisão e seu gado seria sacrificado", afirmou Cameron, que ganhou a promessa de apoio do presidente do comitê, o britânico Neil Parish. Entretanto, o deputado alemão Friedrich-Wilhelm Graefe zu Baringdorf, pediu que as associações européias "sejam honestas em suas motivações". "Não é a qualidade da carne brasileira que preocupa os senhores, mas sim o fato de que, por não ter que cumprir com tantos requisitos, chega aqui com preços muito mais competitivos", disse a Cameron. Representantes do governo brasileiro afirmam que, mesmo se a UE exigisse os mesmos cuidados do Brasil, a carne exportada seria competitiva no mercado europeu. O motivo é simples: o gado brasileiro se alimenta de pasto. O produtor não precisa gastar com ração e a economia é repassada para o preço final. A preocupação do governo é de que tamanha pressão por parte de irlandeses e escoceses acabe manchando a imagem da carne brasileira no exterior. "Eles conseguiram sensibilizar o Parlamento Europeu, como queriam. Esse tipo de pressão pode influenciar outros compradores", admitiu um diplomata. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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