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Conta corrente do país tem em 2008 primeiro déficit em 6 anos

Por ISABEL VERSIANI
Atualização:

As transações correntes do país acumularam no ano passado o primeiro resultado negativo desde 2002 e o maior déficit em 10 anos, pressionadas por um piora expressiva do resultado comercial e de uma elevação das remessas de lucros e dividendos, mostraram números do Banco Central nesta segunda-feira. Os investimentos estrangeiros diretos, por outro lado, fecharam o ano com recorde histórico, tendo mantido fluxos elevados mesmo no último trimestre do ano, quando a crise externa afugentou do país os investidores em portfólio. O déficit em transações correntes foi de 28,300 bilhões de dólares no ano passado, frente a um superávit de 1,551 bilhão de dólares em 2007. Em 1998, o déficit foi de 33,416 bilhões de dólares. Os investimentos estrangeiros diretos somaram 45,060 bilhões de dólares no ano passado, número mais elevado da série do BC, iniciada em 1947, e ante 34,585 bilhões de dólares em 2007. Apenas em dezembro, os investimentos somaram 8,117 bilhões de dólares. O dado foi impactado pela operação de venda, pela Companhia Siderúrgica Nacional, de parte da produtora de minério de ferro Namisa para um grupo de empresas asiáticas, operação de 3,08 bilhões de dólares. A crise externa se fez sentir principalmente sobre os investimentos de mais curto prazo. Os investimentos líquidos em carteira somaram apenas 1,133 bilhão de dólares em 2008, contra 48,390 bilhões de dólares no ano anterior. "Em 2008, nossas contas apresentaram uma piora significativa, mais ao final do ano, de novembro a dezembro, por força da crise internacional", disse a jornalistas o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "As empresas não conseguiram recursos suficientes para cobrir suas amortizações. Tivemos também saídas sucessivas no mercado de capitais." O economista destacou que, se não fosse a redução do passivo externo brasileiro alcançada nos últimos anos, o impacto da crise teria sido mais significativo e "o déficit teria sido bem maior". No ano passado, a balança comercial brasileira teve superávit de 24,746 bilhões de dólares, bem inferior ao saldo de 40,032 bilhões de dólares registrado em 2007, refletindo uma disparada das importações em meio ao crescimento econômico. As remessas de lucros e dividendos feitas por empresas e investidores totalizou 33,875 bilhões de dólares no ano, também bem acima dos 22,435 bilhões de dólares remetidos em 2007. DEZEMBRO No último mês do ano, o Brasil registrou um déficit em transações correntes de 2,922 bilhões de dólares, em linha com o esperado pelo mercado. Analistas consultados pela Reuters esperavam um déficit em conta corrente de 2,85 bilhões de dólares em dezembro, de acordo com a mediana de 10 projeções. As estimativas variaram de um déficit de 2 bilhões de dólares a um déficit de 3,8 bilhões de dólares. Em dezembro de 2007, as contas externas brasileiras tiveram um déficit de 498 milhões de dólares. Os investimentos estrangeiros diretos, de 8,117 bilhões de dólares, foram o segundo resultado mensal mais elevado da série. Altamir Lopes afirmou, no entanto, que os cerca de 3 bilhões de dólares levantados pela CSN com a operação de venda de seu empreendimento já foram reaplicados no exterior em dezembro e, portanto, não tiveram impacto nas contas externas em termos líquidos. Em 12 meses até dezembro, o déficit em transações correntes correspondeu a 1,78 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ante 1,65 por cento do PIB em 12 meses até novembro. Para janeiro, o BC prevê que o país terá um déficit em transações correntes de 3,2 bilhões de dólares e que os investimentos estrangeiros diretos somarão 2,5 bilhões de dólares. (Edição de Alexandre Caverni)

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