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Controle de sua imagem e de sua história é bem rigoroso

Por Antonio Gonçalves Filho
Atualização:

A mídia de moda adora dizer que Chanel se reinventou. Bobagem. Inventaram mais a seu respeito do que as mentiras nascidas na imaginação dessa garota suburbana transformada em mito. Tantas biografias já foram escritas sobre ela - todas disputando o adjetivo "definitiva" - que Chanel teria de nascer mil vezes para se parecer com uma das garotas descritas nas fábulas de Edmonde Charles-Roux e outras centenas de biógrafos. Para que uma delas fosse verdadeira, não poderia existir a marca Chanel, controlada pela maison que leva seu nome. Tudo, rigorosamente tudo que diz respeito à estilista, passa por seu controle para não macular o nome - aliás, a marca - Chanel. Negócio é negócio.Seu colaboracionismo durante a Ocupação alemã, por exemplo, nunca foi devidamente esclarecido. Todo mundo sabe que a guerra mal havia começado quando Chanel e seu amante alemão, o oficial Hans Gunther von Dincklage, transferiram seus pertences para o Hotel Ritz, então quartel-general dos nazistas. A guerra acabou, os colaboracionistas foram punidos, mas Chanel, presa, escapou de ficar careca nas ruas de Paris graças à intervenção de Churchill. Política nunca foi seu forte. Políticos, sim. Chanel nunca deixou de ser individualista, uma alienada garota de subúrbio, ainda que vestida com seu exclusivo pretinho básico - chic, segundo a miserável sintaxe do mundo da moda.A venda de um produto como Chanel, a mulher, obedece à lógica que fez a maison gastar US$ 46 milhões num comercial do perfume Chanel número 5 com Nicole Kidman e Rodrigo Santoro como amante - e ela teve vários, de milionários a modelos de sua maison. Vale dizer que Chanel revolucionou a moda trocando a extravagância pela simplicidade embalada para presente.Faltou dizer que a adoração de Chanel por suas modelos - proveniente de camadas sociais até mais baixas do que a da bastarda Gabriele - era mais que uma simples atração de natureza homossexual. Seria interessante ler uma biografia que investigasse esse desejo secreto de retornar às origens, a uma paisagem menos opulenta que a dos seus anos de glória. Mas isso não seria glamouroso.

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