Costureiras do século 21

Pilotando velhas máquinas, elas criam peças criativas e superdescoladas

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Por Cristiana Vieira
Atualização:

 

 

 

 

No século passado, a máquina de costura serviu de instrumento para a mulher conquistar uma profissão, trabalhando em casa ou com carteira assinada, em fábricas e oficinas. Hoje, com o fomento das faculdades de moda, há jovens que mostram seu talento manuseando novas ou antigas máquinas (algumas herdadas da família), e fazem disso um hobby ou até uma ocupação. O gostinho de poder criar as próprias roupas, sem correr o risco de se deparar com alguém usando o mesmo look, é um prazer que se espalha pelas novas gerações.

 

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Aos 20 anos, a jovem carioca Luana Perrota é um bom exemplo dessa leva. Neta de alfaiate, aprendeu cedo a montar peças com os retalhos que sobravam das costuras do avô, transformando-as em modelitos para as bonecas ou em gravatas para o pai. Já na adolescência, sentia dificuldade em achar peças no seu estilo e passou a usar vestidos do guarda-roupa da avó como moldes para criar os seus. Daí, foi um pulo para se tornar referência na rodinha de amigas. Hoje, Luana cria e também se inspira em modelos que vê na internet e em livros de época. "Antigamente, as mulheres costuravam para a família. Hoje, é uma questão pessoal."

 

Com uma amiga, Luana criou uma marca própria, a Cat Class, com vendas pela internet. As encomendas já chegaram a Manaus, Curitiba e Cuiabá. Seus instrumentos de trabalho incluem duas máquinas de costura – uma dos anos 50, que era do avô, e outra dos anos 70 –, que dividem espaço com o computador. Quando recebe um pedido, Luana compra o tecido, faz o corte, costura e cuida dos detalhes do acabamento. Isso a ocupa por dois dias. "Fico toda orgulhosa. E acho legal ir a uma festa e ver alguém usando minhas criações."

 

Roupas e acessórios. Há quem leve um susto ao descobrir que a costureira Renata Fiore, que mora em Brasília, tem só 28 anos. Sua história começou há seis anos, quando precisou comprar uma bolsa e decidiu ir atrás dos apetrechos para produzi-la. Não demorou muito para começar a vender pela internet e em bazares. Depois sentiu falta de roupas bacanas que pudessem combinar com seus acessórios. Então, há dois anos, passou a costurar batas, vestidos e saias – tudo com tecidos de estampas bem coloridas, que compra numa cidade vizinha.

 

Renata admite que, no começo, não confiou nessa história de a cliente passar as medidas. Então, criou um sistema de prazo para a troca. "Até agora, sempre deu certo." E faz questão de mandar um presentinho (como porta-absorvente, nécessaire, máscara de dormir) junto com a encomenda. "Tenho que conquistar o cliente, porque a concorrência é grande", brinca.

 

Em Americana (SP), a marca que responde por esse segmento é a Chikita, da professora de sociologia Nathália Raggi, de 35 anos, que costura desde os 18. Fã de trabalhos artesanais, ela comprava tecidos em sites dos Estados Unidos e do Japão. Com eles, produzia suas saias e vestidos, sempre com muitos laços e faixas. "Meus vestidos são acinturados, frente única. Bem no estilo vintage."

 

Modelo de suas próprias criações, começou a receber encomendas e montou um site de vendas. No começo, focava mais nas bolsas de tecido. Até que foi incumbida de costurar uma roupa à la Marilyn Monroe. E foi um sucesso.

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Dupla afinada. Para quem também gosta de trabalhos artesanais, um site que virou hit é o superziper.com.br, das amigas Claudia Fajkarz e Andréa Onishi. Formada em publicidade, a dupla descendente de costureiras teve a ideia de criar uma página na internet para mostrar suas criações, com direito a passo a passo, filmes e podcasts. "O que tem no site é o que realmente produzimos", orgulha-se Claudia, que diz receber mais de 5 mil visitantes diariamente. Além de costura, elas falam de tricô, crochê, craft...

 

Apesar da dedicação e disciplina, garantem que é puro hobby. Ao viajar, levam sempre uma câmera para registrar as tendências. Embora saibam costurar, gostam mesmo é de customizar as peças, colocando detalhes, encurtando, alongando. Outro dia, Claudia se cansou de um vestido e o transformou numa camisa. "Inovo usando técnicas antigas", diz.

 

Cada transformação é publicada no site, que surgiu de forma inesperada e era feito a quatro mãos, numa época em que Claudia vivia em Londres e Andréa, em São Paulo. Hoje, toda a criatividade da dupla flui diante de um objeto de desejo que Andréa trouxe de Londres: uma máquina de costura na cor azul-bebê. Um charme só.

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