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Crea-RJ aponta falta de manutenção de bonde

Por ALFREDO JUNQUEIRA E SERGIO TORRES
Atualização:

A falta de marcas de freio nos trilhos e a constatação de que até pedaços de arame eram usados para afixar estruturas do bondinho fizeram com que especialistas do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ) apontassem a falta de manutenção do veículo como causa provável do acidente que matou cinco pessoas e feriu 57 na tarde de ontem, em Santa Teresa, no centro da capital fluminense.A tragédia provocou indignação dos moradores do bairro, que organizaram manifestação contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o secretário de Transportes, Julio Lopes, apontados como responsáveis pela tragédia. Pelo menos dez pessoas seguem internadas hoje em hospitais públicos após passarem por cirurgias. Entre os feridos, turistas americanos, franceses, ingleses e brasileiros.Segundo o coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea, Luiz Antonio Cosenza, a superlotação do bondinho - uma das causas indicadas pelas autoridades para a tragédia - não explica o desastre. Para ele, o mais provável é que tenha havido problemas no freio. A lotação dos bondes é de 32 passageiros sentados e oito em pé: 40 ao todo. O número de vítimas, 62 entre mortos e feridos, indica que havia a superlotação."O peso pode até ter colaborado com a saída dos trilhos. Mas a causa do acidente, para mim, não foi a superlotação. Há a possibilidade de que o freio tenha sido acionado, mas que não funcionou. Pode ter sido um problema de vazamento de ar no compressor. Demos uma olhada lá para cima. Se o freio tivesse sido acionado e a roda travado, haveria marcas no trilho. E não há essas marcas. É como se a roda tivesse vindo solta", disse o engenheiro, classificando como "lamentável" o uso de um arame no lugar do parafuso para prender estrutura perto do eixo das rodas e do sistema de freio do bonde.PeríciaA perícia do local e dos destroços já foi concluída pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Secretaria de Segurança do Estado. Os peritos disseram que entregarão o relatório antes do prazo legal de 30 dias. Sebastião Rodrigues, presidente da Central Logística, empresa do governo do Estado do Rio que administra o sistema de bondes de Santa Teresa, afirmou que todos os veículos passam por manutenção semanal e que as peças são trocadas sempre que necessário. Ele não soube informar quanto dos R$ 3 milhões anuais de orçamento são destinado à manutenção da frota.As informações de Rodrigues foram questionadas pela Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast)e por funcionários da empresa presentes ao enterro do condutor Nelson Correia da Silva. "Os funcionários da manutenção fazem milagres com pedaços de fio", afirmou a professora Marisa Brandão, 48 anos. "Nelson contava que não havia manutenção", disse o amigo Fábio Oliveira.A remoção dos destroços revelou a extensão da tragédia. As poças de sangue se espalhavam. Pares de tênis, chaves de carro, documentos, carteiras, óculos, bolsas e até brinquedos foram deixados pelas vítimas. A passeata que cerca de 100 moradores organizaram encontrou-se com os reboques que levavam os destroços do bonde. Entre gritos de "Fora, Cabral" e "Fora, Julio Lopes", os manifestantes pararam em dois momentos para homenagear as vítimas. Na estação Largo do Curvelo, o grupo fez um minuto de silêncio em respeito ao motorneiro, morto na tragédia. A Amast convocou nova manifestação para quinta-feira, 1º, quando o sistema de bondes completa 115 anos.O produtor de cinema inglês Dorian Needs, 29, disse ser apaixonado pelos bondes, mas que o estado de conservação do sistema é muito ruim. "Não tem segurança nenhuma. Basta ver os trilhos e a rede aérea. Isso aqui não passaria por nenhum órgão de controle na Inglaterra".

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