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Cremerj irá investigar troca de e-mails de médicos

Por Clarissa Thomé
Atualização:

O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) abriu sindicância para investigar o conteúdo de troca de mensagens de médicos da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Municipal Souza Aguiar, no Rio de Janeiro. Nos e-mails, os profissionais tratam de uma peça cirúrgica esquecida em paciente, orientam para a rápida ocupação de leitos na UTI, a fim de evitar transferências externas, e comentam o adiamento de cirurgias por falta de material e isolamento inadequado de paciente com doença infecciosa. A Secretaria Municipal de Saúde informou que também vai investigar a conduta com relação ao preenchimento das vagas da UTI.O grupo de discussão reunia 32 profissionais da UTI e deveria ser restrito aos participantes. Por um erro, as mensagens estavam liberadas. Um dos e-mails alerta que foi encontrado "um guia metálico íntegro na veia femoral" de um paciente, que morreu. "Felizmente, o guia não seguiu junto com o corpo pois poderíamos ser questionados".Em outra mensagem, um médico orienta que vagas na UTI sejam rapidamente ocupadas por "um paciente viável da sala vermelha ou até mesmo da sala amarela". A intenção era evitar "transferências externas quase sempre de pacientes moribundos das UPAs", referindo-se às Unidades de Pronto Atendimento.O Cremerj informou que os médicos serão chamados para prestar esclarecimentos. Os prontuários de pacientes citados nas trocas de mensagens também serão analisados. "Vamos saber se os médicos assumem as mensagens como verdadeiras. A partir daí, vamos analisar os prontuários de pacientes", afirmou Pablo Vazquez, coordenador da Comissão de Saúde Pública do Cremerj.Sobre a questão dos leitos de UTI, Vazquez diz que os médicos constantemente ficam na "delicada situação" de ter de escolher o paciente que tem mais chances de ser salvo. "O que existe nas emergências é a tentativa de aproveitar o leito da UTI para pessoas que de fato têm chance de melhorar. Deveria ter leito de UTI para todo mundo, mas não é a realidade". Vazquez criticou ainda a falta de médicos nas emergências.As mensagens tornaram-se públicas com a morte do cineasta húngaro Andreas Palluch, de 65 anos, que ficou internado por 44 dias no hospital. Uma cirurgia para descomprimir a medula, lesionada em um assalto, foi desmarcada quatro vezes. Uma equipe da Rede Globo fazia matéria sobre o caso de Palluch e, ao pesquisar o nome dele na internet, chegou ao grupo de discussão. A reportagem foi exibida no "Jornal das Dez".Na mensagem que citava Palluch os médicos se referem à família dele como "problemática" - o hospital havia sido notificado pelo Ministério Público Estadual para que prestasse esclarecimento sobre o estado de saúde do paciente. O e-mail falava ainda do adiamento da cirurgia por causa de "erro do fornecedor na entrega do material. "Peço que nenhum privilégio seja concedido a esta família e seja respeitado o horário de visita de forma literal", diz o texto. A filha de Palluch, Andrea Palluch, vai denunciar o caso ao MP. A Secretaria alega que o estado do cineasta era grave e que foi preciso estabilizar o paciente, antes de operá-lo.Essa é a segunda emergência municipal a ser alvo de denúncia, em 10 dias. O MP confirmou no início do mês que investiga relatório de funcionários do Salgado Filho, que apontam para a morte de 363 mortes por infecção hospitalar, em 2010, em universo de 854 pacientes - ou seja, 42,5% de óbitos, índice considerado alto. Nesta quinta-feira, o Cremerj vistoriou o hospital e informou que os respiradores foram trocados por equipamentos mais modernos.

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