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Cresce a capacidade ociosa da indústria de soja do Brasil

Por GUSTAVO BONATO
Atualização:

A capacidade ociosa das indústrias de processamento de soja no Brasil aumentou em 2012 na comparação com o ano anterior, numa temporada em que o país sofreu uma drástica quebra de safra após o setor ter expandido o seu parque produtivo. Além disso, o histórico desestímulo tributário para as empresas agregarem valor aos grãos colaborou com a situação, informou nesta quarta-feira a associação do setor. Contabilizando as fábricas ativas, a capacidade instalada no país em 2012 é de 52,1 milhões de toneladas, com uma previsão de processamento de 35,1 milhões de toneladas da oleaginosa, o que corresponde a 32,6 por cento de ociosidade, revelou uma pesquisa da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). A safra colhida no início de 2012 foi diminuída por uma seca que castigou as lavouras do Sul do país. O Brasil, um dos maiores produtores globais de soja, colheu 66,6 milhões de toneladas, pela estimativa da Abiove, ante um recorde de cerca de 75 milhões de toneladas em 2011. No ano passado, com uma safra cheia, o esmagamento foi maior, atingindo 37,2 milhões de toneladas. Além disso, a capacidade naquele momento era um pouco menor, de 50,1 milhões de toneladas entre as fábricas ativas, deixando a ociosidade no ano passado em 25,7 por cento. A Abiove afirma que em 2012, em função da menor oferta, ficaram mais evidentes as desvantagens de processamento, em função da carga tributária do país, considerada desfavorável à agregação da valor. "Por que eu, que sou indústria, viro trading? Porque processar é mais oneroso", disse à Reuters Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove, ao comentar o aumento de quase sete pontos percentuais na ociosidade, na comparação com o ano passado. O país desonerou totalmente a exportação de soja, mas ainda tributa a produção de farelo e óleo, destinada à exportação, com ICMS e Funrural, e o ressarcimento do PIS e Cofins se estende por anos, observou a entidade, em nota. A entidade cita o exemplo da Argentina, terceiro maior produtor de soja, mas líder nas exportações de óleo e farelo. "O país vizinho incentiva a industrialização e os embarques de farelo e óleo por meio de uma menor tributação sobre os produtos, ao contrário do que faz o Brasil." A capacidade instalada de processamento da Argentina era a metade da brasileira em 1996 e atualmente é maior do que a brasileira, ressaltou a Abiove. "Por que vou processar e arrumar encrenca para mim com ICMS e tantos outros tributos?", reclama Trigueirinho, salientando que a carga tributária teve menos impacto em 2011 porque naquele ano havia menos competição pela soja. As exportações de soja em grãos deverão exceder 31,5 milhões de toneladas em 2012, disse a associação.

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